Artista: Jon Hopkins
Álbum: Insides
Ano: 2009
Gênero: Música eletrônica; ambient; dubstep
Ano: 2009
Gênero: Música eletrônica; ambient; dubstep
Seja por
preconceito ou desconhecimento, existem alguns gêneros musicais que são
incrivelmente subestimados. O álbum aqui abordado traz influência de um desses
gêneros: o ambient.
De certa
maneira eu já falei de ambient neste
blog quando resenhei o Low, do David Bowie. Para quem não sabe,
trata-se de um gênero musical que tem suas origens lá no começo do século XX,
nos movimentos futurista e dadaísta – mais especificamente com um músico
francês chamado Erik Satie.
Satie começou a
fazer experimentos que ele mesmo rotulava como “anti-música” ou “música de
decoração”, um tipo de composição minimalista e repetitiva que serviria como um
pano de fundo para atividades cotidianas e poderia facilmente ser ignorada – ao
contrário de ser o foco da atenção. Esse mesmo conceito influenciou Brian Eno, o respeitadíssimo músico que
já foi da lendária Roxy Music,
trabalhou com Bowie no fim dos anos
70 e que é considerado o responsável pela criação do termo ambient music. No encarte do álbum Ambient 1: Music For Airports (o primeiro de uma série de 4
álbuns), Eno escreveu um tipo de
manifesto que dizia: “a ambient
music precisa ser capaz de acomodar diversos níveis de atenção do ouvinte
sem focar em um em particular; precisa ser igualmente interessante e
ignorável”.
O ambient, como praticamente todos os
estilos musicais, se fundiou a outros e teve diversas crias. Devido ao enorme
uso de sintetizadores, o flerte com a música eletrônica foi assaz bem sucedido
e resultou em pérolas como o álbum aqui resenhado.
Jon Hopkins é um londrino
nascido em 1979 e tem um currículo bastante interessante, tendo trabalhado com
o próprio Eno e com o Coldplay. Ele se interessou por música
eletrônica ao ouvir bandas como DepecheMode, New Order e Pet Shop Boys,
dedicando-se ao piano e aos sintetizadores desde os 12 anos.
Insides é o terceiro e
mais bem sucedido álbum da carreira solo do músico. Apesar de eu ter dado uma
ênfase grande à influência de ambient,
o álbum é muito mais que isso – basta escutar a primeira faixa, a quase
acústica The Wider Sun, para notarmos
que estamos diante de um álbum difícil de classificar. Instrumentos de corda
tocam uma melodia calma e melancólica que poderia estar na trilha sonora de
algum filme de ficção científica e de repente um barulho de água começa bem
suave, com sintetizadores ao fundo dando um clima amplo e espacial; é a deixa
de Vessel, com sua percussão
eletrônica minimalista e baixo à-lá dubstep.
A melodia do piano é simples e belíssima, mostrando bem a influência de Eno no som do rapaz.
A terceira
música é a faixa-título (Insides,
caso você tenha esquecido) é um exemplo de como as possibilidades da música
eletrônica são intermináveis. Um ritmo truncado, com influências que vão do downtempo até o já citado dubstep, criam um ambiente sombrio e
tenso, inquietante como um filme de suspense com robôs malvados.
Wire, por sua vez,
é justamente o oposto. Aqui, Hopkins
mostra seu lado mais pop com melodia e batida muito mais convencional que
poderia tranquilamente ganhar uma letra e tocar em alguma estação de rádio não-tão-convencional.
Uma boa faixa, bem destoante das anteriores.
Colour Eye varia momentos
do chamado IDM (Intelligent Dance Music, um termo muito controverso também
conhecido como art techno) com ambient de uma maneira balanceada e
imprevisível. A música é turbulenta e surpreendentemente termina com quase um
minuto de barulho de chuva.
A próxima faixa
é a minha favorita do álbum. Com um nome audacioso, Light Through The Veins conseguiu, pelo menos para mim (que sou
meio doido e sinestésico), criar de fato uma sensação de luz correndo pelas
veias. Uma balada épica, com um crescendo incrível que se extende por quase 10
minutos, sempre repetindo a mesma melodia no bizarro compasso de 9/4 (eu contei
certo? Corrijam-me, músicos de plantão!). A música vai crescendo aos poucos e
ficando enorme, envolvente, até morrer aos poucos, sempre lentamente e
progressivamente, fluida e sem nada abrupto. O Coldplay sampleou essa música em Life In Technicolor e certamente não foi à toa. Faixa épica e
sensacional.
Hopkins contrasta a
grandiosa faixa anterior com a calmíssima The
Low Places. Parece ter saído da mesma parte do cérebro que compôs Vessel, com uma estrutura semelhante
apesar de não ter características de dubstep.
Esta é mais ambient que qualquer
outra coisa, com batidas minimalistas que vão progredindo muito levemente. Bela
faixa.
Small Memory é uma pequena
faixa tocada no piano, com uma melodia bonita e lenta. Engraçado como o único
filler do álbum é justamente a faixa que foge do ambient e serve apenas para conectar a faixa anterior a A Drifting Up. Pelo instrumental, a
faixa poderia estar tranquilamente em Vespertine,
um dos meus álbuns favoritos da Björk.
Novamente Hopkins experimenta com
microbeats e texturas, fazendo uma faixa bonita e hipnotizante. A música tem
vários níveis, e escutá-la com fone de ouvido é uma experiência incrível.
A última faixa
do álbum é a belíssima Autumn Hill.
Novamente ao piano, Hopkins nos
mostra sua versatilidade com um tema que poderia estar em qualquer filme
triste. Muitíssimo bem executada e com barulhos de pássaros ao fundo, sempre
criando uma atmosfera envolvente. Fecha com chave de ouro.
Insides é um ótimo
álbum. Hopkins foi muito feliz ao
montar a estrutura, a ordem das faixas, criando as nuances necessárias para que
um disco seja mais que apenas um conjunto de faixas. Há faixas memoráveis e a
execução é impecável. Coisa fina.
Recomendadíssimo.
Tracklist:
1. | "The Wider Sun" | 2:37 |
2. | "Vessel" | 4:44 |
3. | "Insides" | 4:40 |
4. | "Wire" | 4:43 |
5. | "Colour Eye" | 5:13 |
6. | "Light Through the Veins" (samples on Coldplay's "Life in Technicolor" and "The Escapist", from "Viva la Vida or Death and All His Friends") | 9:21 |
7. | "The Low Places" | 6:37 |
8. | "Small Memory" | 1:43 |
9. | "A Drifting Up" | 6:29 |
10. | "Autumn Hill" | 2:40 |