quarta-feira, 26 de julho de 2006

Banda: Masada; Álbum: Alef


Banda: Masada
Álbum: Alef
Ano: 1994
Gênero: Jazz; Klezmer (música judaica)

É engraçado ver como este blog vai, aos poucos, se fechando. Vamos fazer uma retrospectiva:

Meu primeiro post de verdade foi sobre o Lovage, que é uma banda composta por Mike Patton, Jennifer Charles, Dan Nakamura e Kid Koala. Muito bem. Mike Patton já tocou em várias bandas, entre elas o Mr. Bungle, que já teve três resenhas publicados aqui. Ora, o guitarrista do Mr. Bungle era Trey Spruance, que - oh! - é a cabeça por trás do Secret Chiefs 3 e do Faxed Head, que já tiveram resenhas publicadas aqui. Mike Patton já fez uma participação no disco Medúlla, da Björk, e esse disco tem uma resenha aqui (e a Björk participou indiretamente em um clip do Faith No More, ex-banda de Patton, mas isso é assunto para outro post). Voltando ao Bungle, o produtor do primeiro álbum deles foi John Zorn, que tem no currículo bandas como o Naked City - que já tem uma resenha aqui - e o Masada, que é o "alvo" de hoje.

Quem não é fanático por música mas é fanático por história (ou é judeu, ou curioso) já deve ter ouvido o nome Masada, mas não como uma referência a uma banda. Masada foi um conjunto de fortificações localizado em uma enorme montanha (masada vem do hebraico "metzuda", fortaleza) e palco de uma das mais impressionantes histórias da antigüidade. O fim da primeira guerra entre judeus e romanos (também conhecida como a grande revolta dos judeus), que durou dos anos de 66 a 73, aconteceu em Masada quando, após mais de três meses de cerco, os romanos conseguiram romper os muros da fortaleza para encontrarem apenas os corpos de seus defensores. Muitos acreditam ter havido suicídio coletivo; outros acreditam que eles atacaram uns aos outros até o último homem, que teria cometido suicídio (afinal, a religião judaica condena o suicídio, como tantas outras) - tudo isso para não morrerem ou tornarem-se escravos nas mãos dos romanos.

Quem não é fanático por história mas é fanático por música talvez nunca tenha ouvido o nome Masada - mas procure ouvir. É muito difícil definir, mas vou tentar: imagine uma mistura entre free jazz e música judaica. Sendo absurdamente simplista, o Masada seria isso. Porém, as coisas tomaram proporções assustadoras.

O Masada lançou dez álbuns de estúdio com a formação clássica entre 1994 e 1997: Alef, Beit, Gimel, Dalet, Hei, Vav, Zayin, Het, Tet e Yod. Essa formação conta com John Zorn no saxofone, Dave Douglas no trompete, Greg Cohen no baixo e Joey Baron na bateria. Entretanto, em seus anos de atividade (desde 1993, ou seja, treze anos), diversos lançamentos fizeram do Masada uma banda muito mais interessante do que ela aparenta ser ao ouvir os dez álbuns com os quatro músicos: inúmeras bandas diferentes tocando arranjos diferentes das músicas desses álbuns (e algumas que não entraram, visto que Zorn compôs mais de 200 músicas nesse período de 3 anos). A formação Bar Kokhba, por exemplo, conta com Mark Feldman no violino, Erik Friedlander no violoncelo, Greg Cohen e Mark Dresser no baixo, Marc Ribot na guitarra, Anthony Coleman e John Medeski no piano/órgão, David Krakauer e Chris Speed no clarinete, Kenny Wolleson na bateria e Dave Douglas no trompete. Esses músicos revezam em diversas formações e apresentam releituras belíssimas das músicas de Zorn, além de algumas que são executadas exclusivamente por esta formação. Outro álbum - Masada Guitars, por exemplo - conta com três guitarristas rearranjando as músicas da formação original, e apenas isso. São 21 faixas, todas contando com um guitarrista e sua guitarra, nada mais. Belíssimo álbum, mas vamos voltar e falar do primeiro dos primeiros: Alef.

Gravado e lançado em 1994, teve a enorme responsabilidade de ser o carro-chefe - o álbum que mostra ao mundo a que a banda veio. E logo na primeira faixa, Jair, somos bombardeados com a banda em um jazz frenético e diferente, cheio de escalas diferentes e tempos quebrados. A precisão dos músicos é impressionante. A criatividade nas improvisações de todos os músicos é avassaladora, mantendo com fidelidade relações com o tema principal.
Temos, então, uma sucessão de faixas de diferentes perfis. Bith Aneth é lenta e densa; Tzofeh é oscilante em sua intensidade. O melhor do disco é a seqüência Tahah - Kanah. A primeira tem um ritmo agitado, guiado principalmente pelo baixo de Greg Cohen; a segunda é um épico lentíssimo cheio de belos duetos de Zorn e Douglas. Outra ótima faixa do álbum é Janohah, que por algum motivo me lembra um navio em movimento.

Sendo Zorn o músico experimental que é, era de se esperar que tivéssemos essa caracterítica em Alef. E ela é bem representada no jazz frenético de Zebdi. Extremamente veloz, com o sax e o trompete em uma briga furiosa.

Tracklist:
1. Jair
2. Bith Aneth
3. Tzofeh
4. Ashnah
5. Tahah
6. Kanah
7. Delin
8. Janohah
9. Zebdi
10. Idalah-Abal
11. Zelah

Um grande álbum, e o debut de uma banda que merece ser escutada não apenas por suas composições, mas também pelas releituras de suas próprias obras.

Recomendadíssimo.

sexta-feira, 14 de julho de 2006

Banda: Faxed Head; Álbum: Exhumed At Birth


Banda: Faxed Head
Álbum: Exhumed At Birth
Ano: 1997
Gênero: Death Metal; Avant-garde

Ultimamente, a última grande revelação do metal no Brasil foi o Massacration. A banda é uma paródia extremamente bem feita aos clichês do heavy metal, com roupas de couro, voz aguda e músicas com riffs similares. Entretanto, eles estão longe de serem os primeiros a fazer coisa parecida. Temos outras bandas-paródia, como o Brujeria e esta analisada hoje, o Faxed Head.

Quem faz parte do Faxed Head? Segundo o release oficial da banda, a banda teve seu início quando um dos integrantes, na pequena cidade de Coalinga, encontrou alguns CDs de death metal que haviam caído de um caminhão no meio da estrada. Ele mostrou a descoberta para seu círculo de amizades e todos logo ficaram impressionados com as letras sombrias e com o clima macabro das músicas. Com o vício dos garotos em cheirar cola, logo ficaram mal quistos na cidade e fizeram um pacto de suicídio. Um deles roubou uma espingarda do pai e todos foram até as plantações de algodão de Coalinga para realizar o ato. Porém, tudo deu errado e eles sobreviveram - todos aleijados e com problemas mentais. Após anos em clínicas de reabilitação e hospitais, eles resolveram formar uma banda. Os quatro integrantes são: Neck Head (que não tem cabeça e tem o pescoço muito alongado) na guitarra, McPatrick Head (o mais aleijado de todos: teve a pele substituída por tecido xadrez e usa uma cadeira de rodas) no vocal, o baixista obcecado por matemática Graph Head e, originalmente, o baterista Washington DC Head. Entretanto, Graph Head deixou a banda e Washington morreu devido ao vício em batata frita, sendo substituídos por Jigsaw Puzzle Head (que tentou se matar e caiu com o rosto sobre o quebra cabeças que montava, ficando com as peças coladas eternamente) e LaBrea Tar Pit Head (outra vítima de suicídio sem sucesso, tendo ficado parcialmente coberto por piche) respectivamente - e tudo isso em parceria com o mímico Fifth Head nos samples.

É claro que isso não é verdade, e a banda é uma paródia ao death metal que tem como mentores o comediante americano Gregg Turkington (mais conhecido como Neil Hamburger) e o guitarrista Trey Spruance (muito citado neste blog). Não encontrei registros sobre a data oficial de formação, mas o primeiro disco foi lançado em 1995 (Uncomfortable But Free) e o álbum aqui resenhado, o segundo da banda, em 1997 (Exhumed At Birth, ou "exumado ao nascer", referência clara ao "Butchered At Birth" do Cannibal Corpse").

Quem teve acesso ao Gates Of Metal Fried Chicken Of Death, do Massacration, vai entender bem o que vou dizer aqui. O Faxed Head não apenas pega os principais clichês do estilo e os mescla como adiciona inclusive os fillers característicos, ou seja, aquelas faixas que nem sempre são música mas que dão um clima específico para o disco. É uma paródia das mais sérias que podem ser feitas, pois não descaracteriza o objeto. A primeira faixa se chama "I Saw Into The Grave Grave" e é muito semelhante à "Intro" do CD do Massacration. Lenta, com uma voz macabra lendo um texto (infelizmente não consegui entender as palavras). A seguir, o álbum mostra uma seqüência de músicas com riffs muito inteligentes e típicos de death metal, com as tradicionais batidas de bateria e baixo pesado. Porém, várias das músicas contam com a letra "falada" por McPatrick Head com uma voz extremamente demente (afinal, ele sobreviveu a um tiro de espingarda e é um ex-usuário de cola de sapateiro).

As letras são um espetáculo a parte. Ao ler o título "Gore and Guts", algum mais desavisado esperaria uma letra típica de death metal, visto que "gore" é sangue coagulado e "gut" é tripa. Porém, é uma música sobre Al Gore e sua capacidade - também é "gut" em inglês, um equivalente a "ter estômago para" - como governante.

Temos momentos bem interessantes no álbum, como a faixa "House Of Spirits". Inteira tocada no teclado e com um clima medievalesco, é viciante. Aliás, muitos riffs bons estão presentes ao decorrer do álbum. Destaque para "Gore and Guts", "House Of Spirits", "Don't Turn Out Like Me" e "A Dream".

Recomendado para fãs de death metal com bom humor.

Tracklist:
1. I Saw into the Grave Grave
2. Teachers Cohen
3. Exhumed at Birth
4. Gore and Guts
5. House of Spirits
6. The Ancient Evil
7. Susurrus in Gloaming
8. Don't Turn Out Like Me
9. The Sickroom of Delivery
10. Coud Eckankar Help?
11. A Dream
12. Peregrinations from Beyond

13. The Blackened Coffin

quarta-feira, 28 de junho de 2006

Banda: Secret Chiefs 3; Álbum: Book Of Horizons


Artista: Secret Chiefs 3
Álbum: Book of Horizons
Ano: 2004
Gênero: Avant-garde

Há algum tempo, postei uma resenha do álbum Book M, também do Secret Chiefs 3. Destaquei que se tratava, basicamente, de uma mistura de música oriental com música eletrônica. Pois bem, em Book Of Horizons, o que vemos é uma banda totalmente diferente. Aliás, uma não: seis.

Já deixei claro no outro review que o gênio por trás desta banda é Trey Spruance, o multi instrumentista que já tocou no Mr. Bungle. E desta vez, ele desdobra o Secret Chiefs 3 em seis bandas muito distintas entre si, que poderiam facilmente lançar álbuns paralelos. Mantendo as proporções, seria mais ou menos um livro de Fernando Pessoa contendo poemas de seus melhores heterônimos. São estas as bandas que tocam em Book Of Horizons (por ordem de participação):

Forms é composta pelos seguintes músicos: William Winant, Timb Harris, Jennifer Cass, Jesse Greere, Trey Spruance e convidados. Toca três músicas no álbum e apresenta uma mistura de música indiana com música cinematográfica. É a banda que abre e fecha o CD, tendo um papel muito importante dentro do álbum. As faixas são muito elaboradas e interligadas, embora apresentem humores muito variados. The End Times, faixa que abre o CD, é extremamente triste e lenta; Welcome to the Theatron Animatronique, faixa que encerra o álbum, é uma marcha empolgante com diversas vozes, com um clima totalmente diferente da faixa de abertura. Entretanto, ambas tem melodias em comum. A outra faixa tocada pela banda, The Owl In Daylight, é uma fantástica progressão rítmica. A música adquire uma forma impressionante, conseguindo um preenchimento sonoro incrível com diversos instrumentos.

Ishraqiyun é formada por Shahzad Ismaily, Eyvind Kang, Rich Doucette, Danny Heifetz, Trey Spruance e convidados. Esta banda colabora com duas músicas no álbum e é muito influenciada por música afegã e música experimental. Embora o resultado dessa mistura seja muito mais pendente para o lado da música afegã, é impossível não se surpreender com a complexidade das composições: belas melodias repletas de compassos irregulares.

Traditionalists tem como único integrante fixo Trey Spruance - os demais são convidados. Colabora com três faixas no álbum. O estilo desta banda é bem interessante, pois ela monta uma paisagem sonora; ao ouvir, é difícil não imaginar aquelas cenas de filme onde uma paisagem flutua por vários segundos ou, no caso de The Electrotheonic Grail Dove, um take em um dojo. Embora eu considere The Indestructible Drop um filler, The Exile é impecável. Triste, poética - linda de morrer, com o perdão da expressão brega.

The Holy Vehm é formada por Unhuman, John Merriman, Jesse Quattro, Jessica Kinney e The Enemy. É a que mais contrasta com as demais, pois suas duas músicas são death metal do mais pesado possível misturado com elementos de música oriental. Os vocais guturais são impressionantes, tanto o grave quanto o agudo. O interessante dessa banda é que, mesmo nos momentos mais pesados, o lado progressivo não fica de lado: mais quebras inesperadas estão aqui. É de deixar muitas bandas de death metal no chinelo.

The Electromagnetic Azoth é formada por Shahzad Ismaily, William Winant, Ches Smith, Jennifer Cass, Trey Spruance e convidados. É, de todas, a que mais se assemelha ao trabalho de Spruance com o Mr. Bungle. Em ambas as músicas ocorrem mudanças rítmicas bruscas, experimentalismo, bom humor e criatividade imensa. Em On The Wings Of The Haoma, por exemplo, temos a impressão de estar flutuando por fragmentos de diversas músicas ligadas por um fio invisível, da maneira mais positiva possível. A outra faixa, DJ Revisionist, é como se Ishraqiyun tivesse colaborado com uma faixa para o Disco Volante do Mr. Bungle. Música dinâmica e muito bem executada com toda uma característica oriental.

Ur, a sexta banda do disco, é formada por Timb Harris, Jesse Greere, Tim Smolens, Trey Spruance e convidados. É a mais americanizada de todas, apresentando faixas com diversos elementos ocidentais. Book T - Exodus, releitura de Ernest Gold, poderia facilmente ser a trilha sonora de um filme épico hollywoodiano. Anthropomophosis: Boxleitner, por sua vez, começa com um clima todo sombrio repleto de guitarras e teclados. Então, inesperadamente, dá lugar a um pop cheio de sintetizadores, e o resto é só ouvir para acreditar.

Enfim, creio que esta é a melhor maneira de se fazer um review deste incrível álbum: seis bandas e uma obra prima. É mais que recomendado: é obrigatório. E eis o tracklist:

1. Forms - The End Times
2. Ishraqiyun - The 4 (Great Ishraqi Sun)
3. Traditionalists - The Indestructible Drop
4. The Holy Vehm - Exterminating Angel
5. Forms - The Owl In Daylight
6. Traditionalists - The Exile
7. The Electromagnetic Azoth - On The Wings Of The Haoma
8. Ur - Book T - Exodus
9. The Holy Vehm - Hypostasis Of The Archons
10. Traditionalists - The Electrotheonic Grail Dove
11. Ishraqiyun - The 3
12. The Electromagnetic Azoth - DJ Revisionist
13. Ur - Antropomorphosis: Boxleitner
14. Forms - Welcome To The Theatron Animatronique

Eis uma performance da música The 4 pela banda Ishraqiyun:

quarta-feira, 24 de maio de 2006

Banda: Ministry; Álbum: ΚΕΦΑΛΗΞΘ (ou Psalm 69: The Way To Succeed and The Way To Suck Eggs)


Artista: Ministry
Álbum: ΚΕΦΑΛΗΞΘ (ou Psalm 69: The Way To Succeed and The Way To Suck Eggs)
Ano: 1992
Gênero: Metal Industrial

O Ministry foi uma das bandas pioneiras no metal industrial. Fundada em 1981 pelo cubano Al Jourgensen, lançou seu primeiro álbum em 1983 - No Sympathy - e, com o passar dos anos, mudou completamente de estilo, da água pro vinho, do synthpop para o metal industrial.

É difícil falar sobre a importância do Ministry para as variantes do Heavy Metal tradicional que viriam a surgir mais pra frente, mas basta dizer que, sem Ministry, bandas como Nine Inch Nails, Rammstein e até Slipknot não existiriam. Trent Reznor já se declarou um grande fã do trabalho de Jourgensen, o Rammstein tem uma influência plenamente perceptível e Joey Jordison, baterista do Slipknot, definiu o álbum Vol. 3: The Subliminal Verses como uma mistura de Ministry e Slayer.

Lançado em 1992, o álbum ΚΕΦΑΛΗΞΘ (pronuncia-se "kefali", "cabeça" em grego), mais conhecido como Psalm 69: The Way To Succeed and The Way To Suck Eggs ou simplesmente Psalm 69, carrega no próprio título diversos significados. ΚΕΦΑΛΗΞΘ, "cabeça" em português, traduz-se como "head" em inglês, e isso é uma gíria para sexo oral. Além disso, o título "Psalm 69: The Way To Succeed And The Way To Suck Eggs" é diretamente ligado ao "Livro das Mentiras" de Aleister Crowley, cujo capítulo 69 contém a frase "the way to succeed or the way to suck eggs" relacionada à posição sexual 69. A frase é traduzida como "a maneira para o sucesso ou a maneira para chupar ovos", mas em inglês existe um trocadilho, pois "succeed" tem o mesmo som de "suck seed", "chupar semente". Além de tudo isso, Psalm significa "salmo" - uma referência à bíblia. Assim, o título se refere ao sagrado e ao profano, à Deus e ao lado mais sexual dos humanos.

A primeira música resume bastante o espírito do disco. N.W.O. é repleta de samples de George H. W. Bush, o Bush-Pai, como crítica à guerra do Golfo e à recém-acabada guerra fria (N.W.O. é a sigla para new world order, ou seja, nova ordem mundial), e essa crítica se repete em diversos momentos do álbum. Mas o tema principal é o sexo e a anti-religiosidade. Just One Fix ("apenas uma injetada") é a segunda música edo álbum e traz uma das principais características da banda: o uso muito bem mensurado de elementos eletrônicos. TV II é raivosa, com riffs típicos de thrash metal junto com tempos extremamente quebrados e berros nervosos.

Os principais pontos altos, além dos já citados, são Jesus Built My Hotrod e a faixa título Psalm 69.

Imagine uma mistura de surf music com um metal industrial frenético; essa é Jesus Built My Hotrod. Repleta de vocalizações (como "ding a ding dang my dang a long ling long" e "bing bing bang a bang bang bing bong"), a música é um rockabilly do século XXI, mesmo tendo sido lançada nos anos 90.

Psalm 69 tem um tom muito diferente. Repleta de samples relacionados a religião, a música cria um clima totalmente macabro, com gemidos de "Liar! Blasphemer!" (Mentiroso! Blasfemador!), "praise Jesus" e guitarras pesadas. Além disso, em momentos ela é rompida por um thrash metal extremamente pesado, cheio de referências ao cristianismo.

A parte instrumental do álbum é extremamente bem feita. O equilíbrio entre música eletrônica e rock pesado é perfeito, e os vocais semi-guturais de Jourgensen caem como uma luva nas composições. É, sem dúvida, um dos maiores clássicos de todos os tempos do metal industrial.

Tracklist:
1. N.W.O.
2. Just One Fix
3. TV II
4. Hero
5. Jesus Built My Hotrod
6. Scare Crow
7. Psalm 69
8. Corrosion
9. Grace

quinta-feira, 30 de março de 2006

Banda: The Beatles; Álbum: The Beatles (ou White Album)



Banda: The Beatles

Álbum: The Beatles (ou White Album)
Ano: 1968
Gênero: Rock

Quem lê este blog (se é que alguém lê) deve estar se perguntando: "primeiro esse (a) maluco (a) fala de uns discos e bandas que eu nunca ouvi falar, e agora vem falar de Beatles?". Pois é, Beatles. O maior ícone pop de todos os tempos. A maior banda de todos os tempos. A maior lenda musical de todos os tempos.

Os garotos de Liverpool, que começaram a carreira no fim dos anos 50 e anunciaram que o sonho estava acabado em 1970, com certeza foram revolucionários. Reinventaram o rock and roll, dando pitadas de carisma e criatividade nunca vistos antes. Contar a história dos Beatles em poucas linhas é muito difícil, visto que existem muitos detalhes e, mesmo tendo durado cerca de 10 anos, foi muito intensa. Já é muito conhecido, por exemplo, que não houveram crimes nos EUA durante a exibição da performance dos Beatles no programa de Ed Sullivan. É óbvio que eles mexeram com a cabeça de muita gente.

Mas os Beatles não foram só iê-iê-iê. A partir da metade dos anos 60, se envolveram com as drogas alucinógenas (principalmente ácido lisérgico, o tão famoso LSD) e mudaram progressiva e radicalmente de estilo. A mudança já era perceptível em Help!, lançado em 1965 - músicas como "I Need You" e "Tell Me What You See" já mostavam que o Fab Four estava amadurecendo. Muita coisa boa se seguiu desde então (incluindo os clássicos Rubber Soul, Revolver e a lenda Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band), mas eu vejo que o auge criativo/musical dos Beatles foi atingido em 1968 (isso mesmo, no ano que não terminou) - o álbum alto intitulado, ou White Album, ou simplesmente Álbum Branco.

Muita especulação se fez a respeito deste álbum, visto que os Beatles passaram um bom tempo na Índia e pouco se sabia a respeito das novas composições. Além disso, o último trabalho lançado por eles havia sido o filme Magical Mistery Tour, que foi considerado o primeiro fracasso dos Beatles - a pressão era grande.

Para complicar ainda mais a situação, Ringo Starr anunciou sua saída dos Beatles por ter seu talento "subestimado pelos outros". Porém, retornou à banda duas semanas depois e encontrou sua bateria coberta por flores. Mas vamos ao Álbum Branco.

Ao retornar da Índia, os Beatles trouxeram uma enorme quantidade de material novo - ou melhor: John trouxe muito material, Paul trouxe muito material, George trouxe muito material e - pasmem - Ringo, que nunca havia composto uma única música, trouxe material. Não havia uma única composição em conjunto. A individualidade estava à flor da pele, e era o começo do fim dos Beatles. Mas isso contribuiu com a gravação de um dos melhores álbuns de todos os tempos. Para facilitar, dividirei esta resenha por membro dos Beatles, começando por John.

As Músicas de John
John Lennon contribuiu com 13 das 30 músicas. Dear Prudence, Glass Onion, Continuing Story of Bungalow Bill, Happiness Is A Warm Gun, I'm So Tired, Julia, Yer Blues, Everybody's Got Something To Hide Except Me And My Monkey, Sexy Sadie, Revolution 1, Cry Baby Cry, a tão controversa Revolution 9 e Good Night.

John havia acabado de conhecer Yoko Ono e estava extremamente apaixonado (Ono aparece, inclusive, nas gravações de Continuing Story of Bungalow Bill e Revolution 9), mas ainda era John Lennon. A busca por novos elementos e sons beira o experimentalismo. Embora ele mantenha sua veia melódica e sentimental em faixas como Julia e Dear Prudence, mostra influências totalmente modernas em Hapiness Is A Warm Gun, Continuing Story of Bungalow Bill e, claro, em Revolution 9. Falando em Revolution 9, vamos explicar o porquê desta faixa causar tanta polêmica.

Prá começar, nenhum dos outros Beatles queria que esta música entrasse no álbum, mas John fez tanta questão que não teve como dizer não. Muitos fãs defendem que Not Guilty, um blues de George, preencheria o espaço muito melhor, mas eu discordo por diversas razões. A primeira e mais forte é simples: Revolution 9 é absolutamente pioneira e ímpar. Não existe coisa parecida feita naquela época, e esta época é 1968 - um ano em que o mundo passou por tantas mudanças e revoltas. Todos os samples caóticos, gritos, protestos contidos na música são um retrato de 68. Além disso, foi de extrema inteligência colocar Revolution 9 entre as calmas Cry Baby Cry e Good Night - o contraste funciona muito bem, muito melhor que se Not Guilty assumisse o lugar. Outro fator é que Not Guilty me lembra, em algum aspecto, Old Brown Shoe, também de George, mas isso é muito pessoal e não vale como argumento. Falemos de Paul.

As Músicas de Paul
Paul contribuiu com 12 das 30 músicas: Back In The USSR, Ob-La-Di Ob-La-Da, Wild Honey Pie, Martha My Dear, Blackbird, Rocky Racoon, Why Don't We Do It In The Road, I Will, Birthday, Mother Nature's Son, Helter Skelter e Honey Pie.

Paul estava entrando em sua pior fase na vida pessoal. Bebia demais, estava ligeiramente deprimido e com atritos com os demais integrantes da banda. Porém, isso não impediu que Paul compusesse e gravasse suas músicas (mesmo que, muitas vezes, gravasse sem a presença dos outros Beatles no estúdio).

No começo das gravações, como já foi dito, Ringo deixou a banda alegando ser menosprezado e rejeitado pelos demais membros da banda, mas isso não fez com que os Beatles parassem o processo de gravação, e o baterista escolhido para substituir Ringo foi... Paul. A bateria de duas faixas do álbum branco são de Paul: Back In The USSR e Dear Prudence (The Ballad Of John and Yoko também conta com a bateria de Paul, mas por outro motivo: era o único músico além de John no estúdio naquele momento).

As composições de McCartney são, como sempre, as mais elaboradas do disco. Melodias muito bem compostas, variedades de ritmos, virtuosismo - não é à toa que Paul é o beatle preferido dos músicos eruditos. Mas algumas coisas bem interessantes aconteceram aqui.

Paul sempre foi tido como o Beatle doce e romântico - o compositor de baladas como And I Love Her, All My Loving, Yesterday e muitas outras. Mas neste disco Paul mostrou, junto ao romantismo, uma face extremamente agressiva e violenta, principalmente na faixa Helter Skelter - a música que "inspirou" Charles Manson e seu grupo a cometerem um dos massacres mais famosos dos anos 60. Pois é, uma das primeiras músicas de metal da história é dos Beatles - e do beatle mais sensível.

A variedade e incrível. Além da fúria de Helter Skelter, temos a doçura de I Will, o minimalismo de Blackbird, o experimentalismo de Wild Honey Pie... enfim, a criatividade é interminável. Vamos a George.

As Músicas de George
George foi o beatle que introduziu a música oriental nas composições dos Beatles. Além disso, sempre foi tido como o "beatle zen", e mesmo dentro das turbulências do álbum branco ele manteve a classe e a calma nas 4 músicas que escreveu - While My Guitar Gently Weeps, Piggies, Long Long Long e Savoy Truffle.

A canção mais bela de George é, com certeza, While My Guitar Gently Weeps, que conta com a participação de Eric Clapton. A leveza combinada com o feeling da guitarra forma um contraste incrível. As demais composições são bem diferentes entre si, quebrando a linearidade dos álbuns anteriores (tanto Within You Without You quanto Blue Jay Way apresentavam cítaras e elementos típicos de música indiana). Piggies é uma crítica muito bem humorada à corrupção política. Long Long Long é uma declaração de amor à Deus e Savoy Truffle brinca com a fixação de Eric Clapton por doces. Cada uma com seu estilo, ora folk ora soul.

Uma composição de George ficou fora do álbum, a ótima Not Guilty, um blues cheio de groove. Mas o espaço de George era limitado por John e Paul, e desta vez havia mais alguém reclamando seu espaço.

A Música de Ringo
Pela primeira vez na história dos Beatles, Ringo contribuiu com uma composição. A meio country Don't Pass Me By tem um refrão grudento, violinos bem executados e a clássica voz anasalada de Ringo.

Além da composição própria, Ringo canta Good Night, de Paul, para encerrar o disco.

Encerrando...
O álbum branco é totalmente diferente dos demais trabalhos dos Beatles. A individualidade interfiriu positivamente nas composições, trazendo à tona a criatividade de cada um. Infelizmente o péssimo clima entre os integrantes levaria a banda ao seu fim dois anos mais tarde, mas fica este legado que influenciou muitos, mas muitos músicos no futuro.

O tracklist é o seguinte:

Disco 1:
1. Back In The USSR
2. Dear Prudence
3. Glass Onion
4. Ob-La-Di, Ob-La-Da
5. Wild Honey Pie
6. The Continuing Story Of Bungalow Bill
7. While My Guitar Gently Weeps
8. Happiness Is A Warm Gun
9. Martha My Dear
10. I'm So Tired
11. Blackbird
12. Piggies
13. Rocky Racoon
14. Don't Pass Me By
15. Why Don't We Do It In The Road
16. I Will
17. Julia

Disco 2:
1. Birthday
2. Yer Blues
3. Mother Nature's Son
4. Everybody's Got Something To Hide Except Me And My Monkey
5. Sexy Sadie
6. Helter Skelter
7. Long Long Long
8. Revolution 1
9. Honey Pie
10. Savoy Truffle
11. Cry Baby Cry
12. Revolution 9
13. Good Night