Artista: Secret Chiefs 3
Álbum: Book of Horizons
Ano: 2004
Gênero: Avant-garde
Há algum tempo, postei uma resenha do álbum Book M, também do Secret Chiefs 3. Destaquei que se tratava, basicamente, de uma mistura de música oriental com música eletrônica. Pois bem, em Book Of Horizons, o que vemos é uma banda totalmente diferente. Aliás, uma não: seis.
Já deixei claro no outro review que o gênio por trás desta banda é Trey Spruance, o multi instrumentista que já tocou no Mr. Bungle. E desta vez, ele desdobra o Secret Chiefs 3 em seis bandas muito distintas entre si, que poderiam facilmente lançar álbuns paralelos. Mantendo as proporções, seria mais ou menos um livro de Fernando Pessoa contendo poemas de seus melhores heterônimos. São estas as bandas que tocam em Book Of Horizons (por ordem de participação):
Forms é composta pelos seguintes músicos: William Winant, Timb Harris, Jennifer Cass, Jesse Greere, Trey Spruance e convidados. Toca três músicas no álbum e apresenta uma mistura de música indiana com música cinematográfica. É a banda que abre e fecha o CD, tendo um papel muito importante dentro do álbum. As faixas são muito elaboradas e interligadas, embora apresentem humores muito variados. The End Times, faixa que abre o CD, é extremamente triste e lenta; Welcome to the Theatron Animatronique, faixa que encerra o álbum, é uma marcha empolgante com diversas vozes, com um clima totalmente diferente da faixa de abertura. Entretanto, ambas tem melodias em comum. A outra faixa tocada pela banda, The Owl In Daylight, é uma fantástica progressão rítmica. A música adquire uma forma impressionante, conseguindo um preenchimento sonoro incrível com diversos instrumentos.
Ishraqiyun é formada por Shahzad Ismaily, Eyvind Kang, Rich Doucette, Danny Heifetz, Trey Spruance e convidados. Esta banda colabora com duas músicas no álbum e é muito influenciada por música afegã e música experimental. Embora o resultado dessa mistura seja muito mais pendente para o lado da música afegã, é impossível não se surpreender com a complexidade das composições: belas melodias repletas de compassos irregulares.
Traditionalists tem como único integrante fixo Trey Spruance - os demais são convidados. Colabora com três faixas no álbum. O estilo desta banda é bem interessante, pois ela monta uma paisagem sonora; ao ouvir, é difícil não imaginar aquelas cenas de filme onde uma paisagem flutua por vários segundos ou, no caso de The Electrotheonic Grail Dove, um take em um dojo. Embora eu considere The Indestructible Drop um filler, The Exile é impecável. Triste, poética - linda de morrer, com o perdão da expressão brega.
The Holy Vehm é formada por Unhuman, John Merriman, Jesse Quattro, Jessica Kinney e The Enemy. É a que mais contrasta com as demais, pois suas duas músicas são death metal do mais pesado possível misturado com elementos de música oriental. Os vocais guturais são impressionantes, tanto o grave quanto o agudo. O interessante dessa banda é que, mesmo nos momentos mais pesados, o lado progressivo não fica de lado: mais quebras inesperadas estão aqui. É de deixar muitas bandas de death metal no chinelo.
The Electromagnetic Azoth é formada por Shahzad Ismaily, William Winant, Ches Smith, Jennifer Cass, Trey Spruance e convidados. É, de todas, a que mais se assemelha ao trabalho de Spruance com o Mr. Bungle. Em ambas as músicas ocorrem mudanças rítmicas bruscas, experimentalismo, bom humor e criatividade imensa. Em On The Wings Of The Haoma, por exemplo, temos a impressão de estar flutuando por fragmentos de diversas músicas ligadas por um fio invisível, da maneira mais positiva possível. A outra faixa, DJ Revisionist, é como se Ishraqiyun tivesse colaborado com uma faixa para o Disco Volante do Mr. Bungle. Música dinâmica e muito bem executada com toda uma característica oriental.
Ur, a sexta banda do disco, é formada por Timb Harris, Jesse Greere, Tim Smolens, Trey Spruance e convidados. É a mais americanizada de todas, apresentando faixas com diversos elementos ocidentais. Book T - Exodus, releitura de Ernest Gold, poderia facilmente ser a trilha sonora de um filme épico hollywoodiano. Anthropomophosis: Boxleitner, por sua vez, começa com um clima todo sombrio repleto de guitarras e teclados. Então, inesperadamente, dá lugar a um pop cheio de sintetizadores, e o resto é só ouvir para acreditar.
Enfim, creio que esta é a melhor maneira de se fazer um review deste incrível álbum: seis bandas e uma obra prima. É mais que recomendado: é obrigatório. E eis o tracklist:
1. Forms - The End Times
2. Ishraqiyun - The 4 (Great Ishraqi Sun)
3. Traditionalists - The Indestructible Drop
4. The Holy Vehm - Exterminating Angel
5. Forms - The Owl In Daylight
6. Traditionalists - The Exile
7. The Electromagnetic Azoth - On The Wings Of The Haoma
8. Ur - Book T - Exodus
9. The Holy Vehm - Hypostasis Of The Archons
10. Traditionalists - The Electrotheonic Grail Dove
11. Ishraqiyun - The 3
12. The Electromagnetic Azoth - DJ Revisionist
13. Ur - Antropomorphosis: Boxleitner
14. Forms - Welcome To The Theatron Animatronique
Eis uma performance da música The 4 pela banda Ishraqiyun:
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