quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Banda: Os Mutantes; Álbum: Jardim Elétrico


Banda: Os Mutantes
Álbum: Jardim Elétrico
Ano: 2001
Gênero: Hard Rock; Experimental

Leitores, permitam-me o clichê: falar de rock brasileiro sem falar d'Os Mutantes é, no mínimo, incompleto. Trata-se de uma banda de enorme importância, sendo considerada, por algumas pessoas, melhor que os Beatles (há controvérsias, mas gosto é gosto).

A história d'Os Mutantes começa quando dois irmãos, Sérgio e Arnaldo Dias Baptista conhecem Rita Lee e formam a banda The Six Sided Rockers, que mais tarde mudaria de nome para O Conjunto e finalmente para Os Mutantes em 1965. Vale lembrar que Sérgio Dias, na época, tinha apenas 13 anos; Arnaldo e Rita Lee tinham 15 anos. Ficaram conhecidos ao participar do disco Tropicália: Ou Panis et Circenses, uma compilação de músicas de diversos artistas do tropicalismo. No ano seguinte lançariam seu primeiro álbum (chamado simplesmente de Mutantes), que trazia uma produção tosca para diversas versões de músicas de Caetano Veloso, Jorge Ben, Sivuca, entre outros. Em seguida lançaram Os Mutantes, um dos grandes álbuns do rock nacional que mescla estilos como sertanejo e rock (na faixa 2001) e faz inúmeras experiências até então inéditas na música brasileira (como o frenesi de Dom Quixote e as extravagâncias de Caminhante Noturno).

Nos anos 70, a banda passou a flertar muito mais com o hard rock, praticamente abandonando o tropicalismo no álbum A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado, de 1970. Mas vamos logo para o Jardim Elétrico, de 1971.

Os Mutantes já eram uma banda maior nessa época, contando com Dinho Leme na bateria e Liminha no baixo (Arnaldo Baptista foi para os teclados). O desafio dos Mutantes era manter a qualidade do álbum anterior e, concomitantemente, inovar, trazer algo de novo para os fãs. E conseguiram. Logo de cara os Mutantes apresentam Top Top, um rock and roll muito bem humorado trazendo uma Rita Lee com a voz alterada, extremamente aguda. No refrão, "sabotagem" e palavras quase initeligíveis são alternadas entre Rita e Arnaldo, uma das duplas mais férteis da música brasileira.

Em seguida temos Benvinda, faixa que parece ter saído de uma parceria imaginária de Tim Maia com Arnaldo Baptista. Uma faixa totalmente romântica, com metais e violinos e uma letra sentimental-mutante ("Benvinda, eu estou em paz. Você demorou, por onde andou? Fiquei chateado... coitado de mim"). Totalmente contrastante com a anterior e com a próxima, a belíssima Tecnicolor, a única composta pelos Mutantes integralmente cantada em inglês (desconsiderando-se, é claro, o álbum Tecnicolor, lançado em 2000 e gravado no começo dos anos 70, e o DVD gravado em 2006, na Inglaterra. Ambos trazem diversas versões em inglês de músicas da banda). Rita Lee é um show à parte.

El Justiciero, um flamenco em portunhol e introdução em inglês. Difícil imaginar uma banda que fizesse uma música assim, mas Os Mutantes fizeram. Extremamente bem humorada e viciante, e uma demonstração da técnica de Sérgio Dias, então com 19 anos. O blues de It's Very Nice Pra Xuxu e o jazz de Portugal de Navio mostram a ecleticidade da banda e, acima de tudo, o bom humor. Na primeira, um Arnaldo sentimental pede palmas para si mesmo por sua evolução pessoal; na segunda, faz um trocadilho fonético impagável: "Eu tentei te amar, mas você não sentiu; eu tentei te encontrar, mas você me fugiu; e hoje eu vou te mandar pra Portugal de navio".

Virgínia me lembra muito Octopus' Garden, dos Beatles. Uma música grudenta com um refrão grudento, e uma doçura que é destruída com a faixa-título do álbum. Jardim Elétrico já ganhou uma versão até dos Ratos de Porão. É extremamente pesada, hard rock. Mais um ponto para a riqueza de estilos deste disco.

Claro que o leitor pode discordar de tudo o que digo aqui, mas na minha humilde opinião Lady, Lady é a música mais fraca do Jardim Elétrico. Apesar de ter suas mudanças rítmicas, é ofuscada pelas demais. A seguinte, por exemplo, é Saravá. Pesada e melódica ao mesmo tempo, com um quê de Led Zeppelin e vocais muito bem executados. O álbum é finalizado com uma versão em inglês de Baby, de Caetano Veloso, fechando com chave de ouro um dos pontos altos do rock brasileiro nos anos 70.

Recomendadíssimo.


Tracklist:
1. Top Top
2. Benvinda
3. Tecnicolor
4. El Justiciero
5. It's Very Nice Pra Xuxu
6. Portugal de Navio
7. Virgínia
8. Jardim Elétrico
9. Lady Lady
10. Saravá
11. Baby

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Banda: Tomahawk; Álbum: Anonymous


Banda: Tomahawk
Álbum: Anonymous
Ano: 2007
Gênero: Metal Experimental; Música Indígena Norte-Americana

O Tomahawk foi fundado no ano 2000, justamente quando o Mr. Bungle terminou. Mike Patton e o guitarrista Duane Denison (ex-Jesus Lizard) começaram um intercâmbio de idéias musicais e juntamente com o baterista John Stanier (ex-Helmet) e com o baixista Kevin Rutmanis (ex-Melvins) fundaram a banda e lançaram o primeiro álbum auto-intitulado pelo selo da Ipecac Records (gravadora que Mike Patton fundou após o fim do Faith No More) em 2001. Dois anos mais tarde a banda lançaria "Mit Gas" e já tinha fãs fiéis (e não apenas saudosistas do tempo do Faith No More). Quatro anos depois de "Mit Gas", o Tomahawk lança seu trabalho mais audacioso, "Anonymous", e divide opiniões.

"Anonymous" é um álbum conceitual, tendo sido inteiramente baseado em músicas de índios nativos dos Estados Unidos. Além disso, é o primeiro álbum sem o baixista Kevin Rutmanis, que deixou a banda por motivos desconhecidos. Até aí, tudo bem. O problema para muitos fãs é que o Tomahawk era a única das inúmeras bandas de Mike Patton que fazia algo mais próximo do rock mais acessível e linear. Os demais trabalhos, como o Fantômas e o Moonchild, são repletos de experimentalismo e elementos de estilos como noise, grindcore e death metal, que definitivamente não agradam a todos os fãs de rock. E o novo álbum do Tomahawk tem experimentalismo de sobra.

A faixa de abertura ("War Song") traz um clima sombrio que poderia muito bem abrir um álbum do Fantômas, com direito a encerramento com sample de chuva. Mas os fãs do estilo dos dois álbuns ficarão realmente chocados a partir da segunda faixa, "Mescal Rites 1".

A música traz um ritmo completamente quebrado, com todos os instrumentos muito sincronizados e coesos. É extremamente sólida e pesada, mas nada linear ou tradicional. É discutível se a faixa poderia estar presente em um disco do Fantômas, mas é difícil contestar a qualidade da faixa.

"Ghost Song", a terceira faixa do disco, é mais calma e menos quebrada, trazendo um timbre totalmente diferente da guitarra de Denison e um Patton mais calmo. O álbum segue com "Red Fox" e "Cradle Song", as músicas que mais se aproximam dos álbuns anteriores do Tomahawk - mas ainda assim trazem uma banda inovadora e inquieta, sempre tentando incorporar algo de novo ao seu estilo.

A sexta faixa é a divertidíssima "Antelope Ceremony", com seu riff de guitarra grudento e as ótimas vocalizações de Patton. É seguida pela ótima "Song Of Victory", que traz novamente a voz acompanhando a melodia dos instrumentos - característica marcante da música indígena norte-americana.

"Omaha Dance" é viajante e lembra um pouco o Tomahawk da época do "Mit Gas". "Sun Dance" traz diversas variações rítmicas, mesclando peso e leveza.

"Mescal Rites 2" pouco tem a ver com a primeira: é uma música extremamente calma, lembrando uma trilha sonora, com uma percussão marcante e diversas vocalizações.

"Totem" parece um rito de preparação para uma batalha, com um ritmo bem marcado. "Crow Dance" é profunda, muito bem trabalhada e traz um Mike Patton extremamente versátil e elástico, capaz de mudar sua voz em uma fração de segundo. O álbum termina com uma faixa solo de Denison.

É um álbum extremamente criativo e provavelmente um dos melhores de 2007, com elementos nunca explorados antes pelo Tomahawk. A banda amadureceu e, apesar do desfalque de Kevin Rutmanis, conseguiu criar o melhor trabalho de sua carreira. Entretanto, os fãs mais conservadores vão torcer o nariz para os diversos momentos de experimentalismo deste álbum.


Tracklist:
1. War Song
2. Mescal Rite 1
3. Ghost Dance
4. Red Fox
5. Cradle Song
6. Antelope Ceremony
7. Song of Victory
8. Omaha Dance
9. Sun Dance
10. Mescal Rite 2
11. Totem
12. Crow Dance
13. Long, Long Weary Day

Recomendado.
Nota: esta resenha também está disponível no site Whiplash!

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Mudança no nome do blog!

A partir de hoje, o Blog Chato e Cliché mudou de nome e de endereço! Agora, o blog se chama "Música Estranha e Boa" e o endereço é http://musicaestranhaeboa.blogspot.com