terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Banda: Sleepytime Gorilla Museum; Álbum: In Glorious Times



Banda: Sleepytime Gorilla Museum
Álbum: In Glorious Times
Ano: 2007
Gênero: Avant-Garde

Nossa. Isso sim foi um hiato. Mas vamos lá!

Metal experimental. Para diversos puristas dentro da música pesada - o que, ao meu ver, é um paradoxo, visto que rock não combina com conservadorismo -, duas palavras como água e óleo: não se misturam e, caso se misturem, ou a água não é água ou o óleo não é lá essas coisas. Mas deixar esses preconceitos de lado pode nos trazer muitas recompensas, e não canso de bater nessa tecla.

Imagine o primeiro show de uma banda. Geralmente vão uns poucos curiosos, que estão ali apenas por acaso ou alguns amigos que vieram dar uma força. Mas a platéia do primeiro show do Sleepytime Gorilla Museum era assim:



Não é uma banana torta. É uma lesma da espécie Ariolimax dolichophallus.

Só por isso já dá pra ter uma idéia de como os membros da banda fogem do convencional. Pode parecer exagero, mas imagino que teatralidade seja o termo mais correto. O SGM respira teatralidade. Pelo site oficial da banda já dá pra ter uma idéia.

Segundo a história repetida pelos próprios integrantes e descritas no site, a origem do singelo nome Sleepytime Gorilla Museum remontam ao início do século XX, mais precisamente ao dia 22 de junho de 1916. Foi nessa data que um grupo dadaísta e futurista americano chamado Sleeytime Gorilla Press inaugurou um museu que eles denominavam de museu do futuro: era fechado ao público, anti-material e não-histórico. No dia seguinte, eles atearam fogo no museu. Exatos 83 anos após a inauguração (1999, para facilitar as contas) ocorreu o já descrito primeiro show da banda para a lesma-banana.

O SGM era composto, então, por Dan Rathbun, Carla Kihlstedt, Moe Staiano e David Shamrock. Mas classificar a função de cada um na banda é muito difícil, pois eles tocam, além dos instrumentos convencionais, muitos outros, ora existentes, ora de criação própria. Por exemplo: Poderia dizer que Dan Rathbun é vocalista/baixista, mas ele também toca harpa, trombone, "coisa", "roach" e outros instrumentos peculiares.

No dia seguinte após a estréia para a lesma, o Sleepytime tocou para uma platéia humana e, dois anos depois, lançou seu debut, Grand Opening and Closing (vale perceber que o título é uma referência ao museu do futuro, que abriu e fechou em dois dias). A recepção por parte do público (muitíssimo específico, só para frisar) e da crítica foi boa, e melhorou no álbum seguinte, Of Natural History, lançado em 2004.

Mas o auge do Sleepytime Gorilla Museum até o momento é o álbum aqui resenhado: In Glorious Times, lançado dia 29 de maio de 2007. Vale a pena, agora, detalhar os membros da banda e suas funções no álbum:

Matthias Bossi: bateria, glockenspiel, escaleta, percussão, piano, xilofone
Nils Frykdahl: voz, autoharp, flauta, guitarra/violões, guitarra percussiva, gravador, sinos tibetanos
Carla Kihlstedt: voz, autoharp, gaita-baixo, violino elétrico, nyckelharpa, órgão, guitarra percussiva, violinofone
Michael Mellender: acordeon, eufônio, guitarra, alavanca-alavancada, pâncreas (elétrico), percussão, tangularium, piano de brinquedo, trompete, valhalla, vaticano, roda, xilofone
Dan Rathbun: voz, autoharp, baixo, alaúde, wiggler com pedal, gravador, roach, tronco slide-piano, coisa, trombone

Não fique chateado (a) se você não conhecer a maior parte desses instrumentos. Quase ninguém conhece, e muitos deles só os caras da banda conhecem de fato - foram inventados por eles.

Mas voltando ao disco, a abertura de In Glorious Times é a épica The Companions, com mais de 10 minutos de duração e abordando uma rebelião de desesperados, um tema muito mais amedrontador do que pode parecer à primeira vista. E aqui já é bem possível notar como o Sleepytime Gorilla Museum trabalha bem idéias sombrias aplicando-as no mesmo grau tanto em letra quanto em música. O medo que o locutor sente ao descrever a rebelião é acompanhado por um fundo musical sinistro e lento, como se fosse uma caixinha de música. Porém, conforme a rebelião vai tomando corpo e a letra passa a retratar o ponto de vista dos desesperados, os vocais se tornam guturais e a música cresce em intensidade e peso, para retornar ao clima inicial nos dois minutos finais. Uma das melhores do álbum e certamente a mais apropriada para abrir.

Helpless Corpses Enactment começa com um clima bem death metal e, após meio minutos, entra em um tempo de 5/4, com riffs complicadíssimos e uma parte vocal raivosa. É interessante como eles trabalham diversas nuançes em cada música e como todas elas conseguem ser sombrias, tanto nas partes mais velozes e distorcidas quanto nas leves e melodiosas, categoria essa em que se enquadram as duas músicas seguintes, Puppet Show e a ótima Formicary, com sua pegada semelhante a um jazz vindo diretamente da mente de um palhaço malvado.

Uma das melhores músicas do disco é, sem dúvida, a ótima Angle Of Repose. A voz de Carla começa melancólica, seguindo as texturas da guitarra e os pratos da bateria. Eis que, quando menos se espera, entra um riff à-lá Dream Theater e a música ganha uma cara totalmente nova, junto com o violino e os demais instrumentos. E as mudanças não param por aí. Mais pra frente, a cantora começa a cantar com a voz rasgada, lembrando muito a islandesa Björk em seus momentos mais frenéticos.

O disco continua interessantíssimo com Ossuary, que começa com uma pegada de música árabe para terminar em um vocal gutural raivoso acompanhado por riffs de death metal em compassos irregulares.

Eu já disse mas vou ressaltar: o SGM exala teatralidade. É o que notamos no decorrer do álbum todo e fica ainda mais explícito na música The Salt Crown. A interpretação vocal é impressionante - ele soa como se estivesse interpretando um personagem, não como se estivesse cantando uma canção. E ele consegue fazer isso mesmo nos momentos mais pesados.

A música menos inspirada do álbum talvez seja The Old Dance, com as vozes acompanhando o riff esquisito e nada de muito diferente disso. The Greenless Wrath, porém, começa pequena e vai crescendo com o tempo, com os cantores aumentando a intensidade de suas vozes junto com os instrumentos até tudo explodir em uma música celta perturbada, cheia de distorções e os já característicos riffs não convencionais.

The Widening Eye é uma ótima faixa instrumental que leva para o encerramento do disco, a pesada The Putrid Refrain, que termina com algo semelhante a uma mensagem deixada em uma secretária eletrônica.

Não é um disco (uma banda, para ser mais preciso) muito fácil de assimilar, mas certamente é algo muito diferente do convencional e que vale a pena ser conferido por quem gosta de música pesada.

Recomendadíssimo.

Tracklist:
1. The Companions
2. Helpless Corpses Enactment
3. Puppet Show
4. Formicary
5. Angle of Repose
6. Ossuary
7. The Salt Crown
8. The Only Dance
9. The Greenless Wreath
10. The Widening Eye
11. The Putrid Refrain

Abaixo, o clip de Helpless Corpses Enactment:

Um comentário:

LestatV3 disse...

Eu discordo quanto os comentários de 'Metal' e 'Pesado'. Eu sou fã da banda e afirmo que o único disco com elementos de Metal é esse último, aqui resenhado, In Glorious Times. E somente em uma faixa, a Helpless Corpses Enactment.

A própria banda de afirma ser do estilo 'Rock contra Rock', o que se pararmos para pensar, é justamente isso: Uma música crua e simples contra música crua e simples.
Sim, SGM toca música crua e simples. Tudo acústico sem efeitos e edições via computador, sem virtuosidades, sem querer ser mais do que é.

Ouça a banda se você quer ouvir algo diferente de TUDO que vai ouvir algum dia. Cada música deles é completamente diferente. Cada album deles possuim músicas completamente diferentes. É uma banda fantástica que nunca deixa de inovar e que deveria ficar para a história por tal feito.

Obrigado.
LestatV3