Artista: Amon Tobin
Álbum: Permutaton
Ano: 1998
Gênero: Música eletrônica, jazz
Álbum: Permutaton
Ano: 1998
Gênero: Música eletrônica, jazz
Quem ouve falar
de um cara chamado Amon Tobin nem
imagina que ele nasceu no Rio de Janeiro. O nome soa gringo, e de certa forma
ele é mesmo: aos dois anos de idade se mudou com a família (obviamente) para o
Marrocos, viveu em diversos países até se assentar na Inglaterra até 2002.
Foi na
Inglaterra, aliás, que o rapaz se interessou por música eletrônica e,
principalmente, pelo uso de samples.
Pra quem não sabe, o sample é
um trecho de uma outra música ou áudio que é reaproveitado de maneira diferente
por outro artista. Amon se
tornou muito bom nisso, e quando eu digo muito bom eu quero dizer um dos
melhores do mundo.
Permutation é o
terceiro trabalho de estúdio de Amon e é tido como
uma de suas melhores obras. Ele foi buscar seus samples em artistas obscuros
dos anos 40 e 50 e com isso criou um clima noir incrível,
misturando metais com sintetizadores e levadas incríveis de bateria com drum machines. Um finíssimo
trabalho de música eletrônica.
A faixa de
abertura, Like Regular
Chickens, já consegue prender a atenção do ouvinte de cara. Lenta e sombria
de início, com um piano levíssimo e dark, a música se transforma
progressivamente conforme a bateria vai se transformando de uma levada
tranquila para um drum 'n' bass furioso - tudo feito com samples, mas
majestosamente trabalhados por Amon.
Belíssima abertura.
Bridge traz um
swing arrastadíssimo, com bateria e baixo frenéticos e algumas texturizações
com guitarras, saxofones e outros instrumentos. A música tem um clima lisérgico
(outra característica recorrente no disco) e, de certa maneira, sexy. Nunca é
demais repetir o quão prudente o brasileiro foi em escolher seus samples.
Reanimator tem um
clima mais contemporâneo, com uma batida muito mais próxima do drum 'n' bass do que do jazz. O baixo é espetacular, provocante,
e a bateria convida o ouvinte para a rave. É interessante notar como essa
música parece estar um pouco fora do contexto do álbum, e talvez por isso ela
se torne uma peça tão indispensável para a qualidade dele. Belíssima faixa.
A melhor
maneira que eu encontro para definir Sordid é:
imagine se o Daft Punk e o Prodigy fizessem
uma parceria. É mais ou menos como a faixa soa: um clima dark e vintage ao
mesmo tempo, desafiadora, urbana, com alguns toques de industrial. Tudo isso
muito bem encaixado.
Nightlife é outra
faixa deveras intrigante. Eu poderia descrevê-la de muitas maneiras, mas
pesquisando sobre este álbum eu achei a definição perfeita em uma resenha do
site Allmusic: "disney
on acid". É exatamente isso: após um começo tranquilo, com um piano de cool jazz "assombrado"
por alguns outros efeitos, a música desbanda para um riff de baixo curiosamente
infantil e uma levada que me lembra muito um outro projeto interessantíssimo: Fantastic Plastic Machine (se você
não conhece, faça um favor a você mesmo e vá atrás - você não vai se
arrepender). As melodias que se seguem são memoráveis. Sem dúvidas uma das
melhores faixas do álbum.
Escape é bem
mais experimental que as anteriores, cheia de samples de voz, batidas complexas
e saxofones de free jazz - tem
até alguns elementos que lembram dubstep.
A música não chega realmente a pegar fogo, então eu a considero um pouco como
um filler apesar de
seus quase 6 minutos.
Em Switch, Amon escolhe um sample delicioso de jazz, deixa em loop e enche de texturas e
solos de instrumentos de sopro cheios de efeitos à-lá dub. Simples mas viciante,
outra belíssima faixa.
People Like
Frank foca em um
sample de baixo e bateria que não tem nada a ver com drum 'n' bass, mas sim com o
baixo rabecão e bateria de jazz. A música traz inclusive alguns solos de
bateria recheados de white
noise e sintetizadores sombrios - característica recorrente do álbum
e, como já disse, fundamental para o clima noir.
Sultan Drop tem um
clima hipnótico com tempero árabe. O baixo em loop, a bateria ressonante e
arrastada, todos os ruídos - tudo contribui para o ambiente desta faixa
interessantíssima. Não é um dos destaques do álbum, mas ainda assim é um ponto
interessante.
Fast Eddie começa com
uma pegada latin jazz, com
congas e percussão marcante, mas logo dá lugar à uma fusão com diversos
elementos eletrônicos e, novamente, a influência do drum 'n' bass é gritante.
É a faixa mais longa do álbum, ultrapassando a marca dos 7 minutos. Bela faixa.
Toys tem uma pegada
meio circense de início, mas novamente com o clima ácido e noir já característico do
álbum. A maneira como Tobin mescla
alguns elementos de fanfarra com sua música mui moderna
é excepcional, e em questão de segundos atravessamos décadas de evolução
musical.
A faixa que
encerra o álbum é a relaxante Nova.
Aqui sim podemos notar a influência da música brasileira no rapaz - afinal, a
bossa nova nada mais é que o jazz com uma pitada de tempero brazuca. A calma
sequencia de acordes tocada no violão é ressaltada por um clarinete cheio de
eco e teclados calmíssimos, criando uma textura que nos faz sentir em uma praia
de Saturno - se elas existissem, é claro. Belíssimo encerramento.
Permutation é uma
obra incrivelmente coesa e coerente, sem abrir mão do experimentalismo e da
criatividade. Os samples antigos misturados com as técnicas recentes são
trabalhados de maneira única e com muito cuidado. Uma masterpiece e, portanto,
recomendadíssima.
Tracklist:
- Like Regular Chickens
- Bridge
- Reanimator
- Sordid
- Nightlife
- Escape
- Switch
- People Like Frank
- Sultan Drops
- Fast Eddie
- Toys
- Nova
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