quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Artista: Amon Tobin; Álbum: Permutation



Artista: Amon Tobin
Álbum: Permutaton
Ano: 1998
Gênero: Música eletrônica, jazz

Quem ouve falar de um cara chamado Amon Tobin nem imagina que ele nasceu no Rio de Janeiro. O nome soa gringo, e de certa forma ele é mesmo: aos dois anos de idade se mudou com a família (obviamente) para o Marrocos, viveu em diversos países até se assentar na Inglaterra até 2002.

Foi na Inglaterra, aliás, que o rapaz se interessou por música eletrônica e, principalmente, pelo uso de samples. Pra quem não sabe, o sample é um trecho de uma outra música ou áudio que é reaproveitado de maneira diferente por outro artista. Amon se tornou muito bom nisso, e quando eu digo muito bom eu quero dizer um dos melhores do mundo.

Permutation é o terceiro trabalho de estúdio de Amon e é tido como uma de suas melhores obras. Ele foi buscar seus samples em artistas obscuros dos anos 40 e 50 e com isso criou um clima noir incrível, misturando metais com sintetizadores e levadas incríveis de bateria com drum machines. Um finíssimo trabalho de música eletrônica.

A faixa de abertura, Like Regular Chickens, já consegue prender a atenção do ouvinte de cara. Lenta e sombria de início, com um piano levíssimo e dark, a música se transforma progressivamente conforme a bateria vai se transformando de uma levada tranquila para um drum 'n' bass furioso - tudo feito com samples, mas majestosamente trabalhados por Amon. Belíssima abertura.

Bridge traz um swing arrastadíssimo, com bateria e baixo frenéticos e algumas texturizações com guitarras, saxofones e outros instrumentos. A música tem um clima lisérgico (outra característica recorrente no disco) e, de certa maneira, sexy. Nunca é demais repetir o quão prudente o brasileiro foi em escolher seus samples.

Reanimator tem um clima mais contemporâneo, com uma batida muito mais próxima do drum 'n' bass do que do jazz. O baixo é espetacular, provocante, e a bateria convida o ouvinte para a rave. É interessante notar como essa música parece estar um pouco fora do contexto do álbum, e talvez por isso ela se torne uma peça tão indispensável para a qualidade dele. Belíssima faixa.

A melhor maneira que eu encontro para definir Sordid é: imagine se o Daft Punk e o Prodigy fizessem uma parceria. É mais ou menos como a faixa soa: um clima dark e vintage ao mesmo tempo, desafiadora, urbana, com alguns toques de industrial. Tudo isso muito bem encaixado.

Nightlife é outra faixa deveras intrigante. Eu poderia descrevê-la de muitas maneiras, mas pesquisando sobre este álbum eu achei a definição perfeita em uma resenha do site Allmusic: "disney on acid". É exatamente isso: após um começo tranquilo, com um piano de cool jazz "assombrado" por alguns outros efeitos, a música desbanda para um riff de baixo curiosamente infantil e uma levada que me lembra muito um outro projeto interessantíssimo: Fantastic Plastic Machine (se você não conhece, faça um favor a você mesmo e vá atrás - você não vai se arrepender). As melodias que se seguem são memoráveis. Sem dúvidas uma das melhores faixas do álbum.

Escape é bem mais experimental que as anteriores, cheia de samples de voz, batidas complexas e saxofones de free jazz - tem até alguns elementos que lembram dubstep. A música não chega realmente a pegar fogo, então eu a considero um pouco como um filler apesar de seus quase 6 minutos.

Em Switch, Amon escolhe um sample delicioso de jazz, deixa em loop e enche de texturas e solos de instrumentos de sopro cheios de efeitos à-lá dub. Simples mas viciante, outra belíssima faixa.

People Like Frank foca em um sample de baixo e bateria que não tem nada a ver com drum 'n' bass, mas sim com o baixo rabecão e bateria de jazz. A música traz inclusive alguns solos de bateria recheados de white noise e sintetizadores sombrios - característica recorrente do álbum e, como já disse, fundamental para o clima noir.

Sultan Drop tem um clima hipnótico com tempero árabe. O baixo em loop, a bateria ressonante e arrastada, todos os ruídos - tudo contribui para o ambiente desta faixa interessantíssima. Não é um dos destaques do álbum, mas ainda assim é um ponto interessante.

Fast Eddie começa com uma pegada latin jazz, com congas e percussão marcante, mas logo dá lugar à uma fusão com diversos elementos eletrônicos e, novamente, a influência do drum 'n' bass é gritante. É a faixa mais longa do álbum, ultrapassando a marca dos 7 minutos. Bela faixa.

Toys tem uma pegada meio circense de início, mas novamente com o clima ácido e noir já característico do álbum. A maneira como Tobin mescla alguns elementos de fanfarra com sua música mui moderna é excepcional, e em questão de segundos atravessamos décadas de evolução musical.

A faixa que encerra o álbum é a relaxante Nova. Aqui sim podemos notar a influência da música brasileira no rapaz - afinal, a bossa nova nada mais é que o jazz com uma pitada de tempero brazuca. A calma sequencia de acordes tocada no violão é ressaltada por um clarinete cheio de eco e teclados calmíssimos, criando uma textura que nos faz sentir em uma praia de Saturno - se elas existissem, é claro. Belíssimo encerramento.

Permutation é uma obra incrivelmente coesa e coerente, sem abrir mão do experimentalismo e da criatividade. Os samples antigos misturados com as técnicas recentes são trabalhados de maneira única e com muito cuidado. Uma masterpiece e, portanto, recomendadíssima.

Tracklist:

  1. Like Regular Chickens
  2. Bridge
  3. Reanimator
  4. Sordid
  5. Nightlife
  6. Escape
  7. Switch
  8. People Like Frank
  9. Sultan Drops
  10. Fast Eddie
  11. Toys
  12. Nova

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