Banda: Mr. Bungle
Álbum: Disco Volante
Ano: 1995
Gênero: Avant-garde
Continuando a odisséia Bungle, chegou a vez do mais controverso, estranho, genial, original, o-adjetivo-que-você-quiser álbum da banda: Disco Volante, lançado quatro anos após o debut auto-intitulado (ou seja, 1995), intervalo este em que tivemos o lançamento de dois álbuns sensacionais da dita "banda principal" de Mike Patton (o Faith No More) - Angel Dust, de 1992, e King For A Day... Fool For A Lifetime, do mesmo ano do álbum aqui resenhado.
Meu primeiro contato com música avantgarde foi este álbum, e creio que foi um começo estranho (visto que a coisa mais anticonvencional que eu já havia ouvido era a fantástica Björk). Ao ouvir a primeira faixa, que tem o sugestivo nome de Everyone I Went To High School With Is Dead (ou seja, "Todos aqueles com quem eu cursei o colégio estão mortos"), a primeira coisa que notei foi a bateria quase infantil junto com os vocais falados em uníssono por várias pessoas. "Estranho", pensei, mas não fugia tanto assim do dito "comum". Parecia apenas um thrash metal tocado com muita má vontade. Mas ao continuar a ouvir o álbum, dei de cara com Chemical Marriage e toda a minha visão do Bungle metal (lembre-se: foi o meu primeiro contato com a banda) se desfez. O que eu ouvia era uma salsa muito esquisita, com vocais fazendo "mamamama", assobios, um órgão e sons que pareciam ter saído de um desenho animado.
Mas o que foi uma pancada na minha cabeça mesmo foi a terceira faixa, Carry Stress In The Jaw. Eu definitivamente não estava preparado para o que estava por vir. Provavelmente falharei miseravelmente ao tentar descrever a música e minha sensação com palavras, mas lá vai. A música começa apenas com o baixo e com o sax tocando uma seqüência esquisita de notas. Então, subitamente, a bateria entra bem leve, com Patton cantando o primeiro verso da canção calmamente. Então a música entra em um falso crescendo, e... já me perdi. Mas esta música foi um desrespeito ao meu universo de música convencional. Quando eu menos esperava, uma guitarra extremamente distorcida e rápida entrava e, em uma sincronia absurda com a bateria, fazia nascer um thrash metal dentro de todo aquele jazz... e era acompanhada pelo sax.. e eu fiquei sem entender nada, fiquei revoltado (a) e parei de ouvir o CD naquele ponto. Simples assim.
"Que absurdo, como alguém lança um CD desses? Isso não é música" e outras coisas. Foi isso que passou pela minha cabeça... mas por algum motivo, que não sei explicar qual, não me livrei das músicas - sábia escolha. Anos mais tarde, ele viria a ser um de meus favoritos.
Disco Volante é o auge experimental/criativo do Mr. Bungle. Embora não seja o meu favorito da banda (na minha opinião ficando atrás do fenomenal California), tenho que reconhecer que este álbum tem uma importância incrível dentro do cenário musical inovador dos anos 90. A música que recebeu um parágrafo inteiro de dedicação (Carry Stress In The Jaw) é algo que merece ser ouvido, pelo menos uma vez na vida, por todo ser que tenha o sentido da audição. A mistura de tendências, a precisão dos músicos, a criatividade, tudo nesta música é perfeito.
Mas o álbum não pára por aí, e este é o álbum experimental de uma banda experimental. A banda mostra a gigantesca influência sofrida pelo cinema em músicas como Violenza Domestica, que é praticamente cinema para os ouvidos. Começa com o som de uma faca sendo afiada, sendo seguida por um clima sombrio, trechos de música italiana e diálogos também em italiano. E a música é isso, parece um filme. É uma experiência incrível.
Temos momentos de extremo humor, como a faixa After School Special, onde uma criança fala com a outra que sua mãe é melhor "porque ela cozinha/ela limpa/ela mente/ela diz que sou bonito". Temos também momentos de surrealismo bizarro, como Phlegmatics ("acordei coberto de muco/sonhei que engoli meus dentes/e tentei tossí-los para fora"). E não é apenas na letra que estas tendências se mostram explícitas. As mudanças de ritmo assustadoras, os acordes dissonantes e aparentemente desconexos, as palavras inventadas apenas por sua sonoridade (como na incrível Ma Meeshka Mow Skwoz, cantada inteira em um idioma inventado por Patton), os samples esquisitos, tudo - tudo neste álbum é excêntrico e perfeito ao mesmo tempo.
Foi durante a turnê deste álbum que nasceu o projeto Secret Chiefs 3, que tem um review neste mesmo blog.
Bem, é um álbum indispensável para quem quer sair da mesmice da música convencional.
Tracklist:
1. Everyone I Went to High School With Is Dead
2. Chemical Marriage
3. Carry Stress In The Jaw/Secret Song
4. Desert Search for Techno Allah
5. Violenza Domestica
6. After School Special
7. The Sleep (part III): Phlegmatics
8. Ma Meeshka Mow Skwoz
9. The Bends ("Man Overboard", "The Drowning Flute", "Aqua Swing", "Follow the Bubbles", "Duet for Guitar and Oxygen Tank", "Nerve Damage", "Screaming Bends", "Panic in Blue", "Love on the Event Horizon", "Re-Entry")
10. Backstrokin'
11. Platypus
12. Merry Go Bye Bye
Tracklist:
1. Everyone I Went to High School With Is Dead
2. Chemical Marriage
3. Carry Stress In The Jaw/Secret Song
4. Desert Search for Techno Allah
5. Violenza Domestica
6. After School Special
7. The Sleep (part III): Phlegmatics
8. Ma Meeshka Mow Skwoz
9. The Bends ("Man Overboard", "The Drowning Flute", "Aqua Swing", "Follow the Bubbles", "Duet for Guitar and Oxygen Tank", "Nerve Damage", "Screaming Bends", "Panic in Blue", "Love on the Event Horizon", "Re-Entry")
10. Backstrokin'
11. Platypus
12. Merry Go Bye Bye
E esta foi a parte dois da odisséia Bungle. Logo posto a terceira e derradeira (até rimou).
Abaixo, Desert Search For The Techno Allah ao vivo:
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