quarta-feira, 25 de julho de 2012

Banda: Phish; Álbum: A Picture Of Nectar


Banda: Phish
Álbum: A Picture of Nectar
Ano: 1992
Gênero: Jazz-fusion, rock, funk, afro-jazz, bluegrass



Existem muitas bandas das quais a gente já ouviu falar, mas nunca foi atrás. O Phish era uma dessas bandas pra mim; eu conhecia o nome, sabia que era “fish com ph”, mas nunca havia ouvido uma música sequer.

Fui escutar a primeira música quase que por acidente, e só aconteceu porque sou um gamer. Ao jogar Rock Band 3 (pra quem não conhece, um simulador de banda divertidíssimo), fui atrás da música mais difícil de todas e me deparei com Llama, justamente do Phish. E não era à toa que o jogo classificou a canção como complexa: absolutamente todos os instrumentos apresentam partes complicadíssimas em ritmo frenético. Foi o suficiente para abrir meu apetite e ir atrás da banda.

Formada em 1983 nos EUA, a banda mantém a mesma formação desde 1986, quando o guitarrista Jeff Holdsworth saiu da banda para seguir a carreira de engenheiro eletrônico. Anteriormente, o percussionista Marc Daubert também havia feito parte da banda por aproximadamente cinco meses em 1984. Mas o Phish como conhecemos é composto por Trey Anastasio (guitarra/vocal principal), Jon Fishman (bateria/vocal), Mike Gordon (baixo/vocal) e Page McConnell (teclado/vocal). Vale notar que o membro mais recente da banda é o tecladista, que se juntou ao Phish em 1985.

Boa parte da fama do Phish vem da qualidade técnica dos músicos e das longas jams que eles fazem ao vivo. Creio que fãs mais xiitas iriam repreender o fato de eu estar resenhando logo um álbum de estúdio, porque boa parte do que a banda representa só pode ser sentido quando eles estão sobre o palco.

Mas acontece que eu me apaixonei por A Picture Of Nectar. Lançado em 1992, é o terceiro álbum de estúdio do Phish, mas o primeiro a ser lançado por uma gravadora de grande porte (Elektra Records). Tentar definir o gênero musical desta pérola é um desafio, visto que a banda transita com naturalidade entre tantos gêneros que, num descuido, pode parecer que estamos ouvindo uma coletânea de world music.

Antes de detalhar as músicas, entretanto, vale a pena falar da capa. Já ouvi falar que o rosto não-muito-subliminar na laranja é de Salvador Dali ou mesmo de Albert Einstein, mas ambas as informações estão erradas. Trata-se de Nectar Norris, o proprietário de um bar na cidade de Burlington – daí o nome do disco.

A faixa de abertura é justamente a já citada Llama. Uma pedrada influenciada por jazz, funk, rock e deus sabe o quê, abre o disco com estilo, já deixando evidente a qualidade técnica da banda. Fishman é um monstro na bateria, o baixo de Gordon é destruidor, os teclados de McConnell são hipnotizantes e Anastasio é técnico e criativo – qualidades que raramente aparecem juntas em grau satisfatório em um guitarrista.

O contraste de Llama com Eliza, a faixa subsequente, não poderia ser maior. Um jazz instrumental belíssimo, apesar dos acordes dissonantes e melodia incomum. Tem pouco mais de um minuto e meio, mas chama-la de filler daria a falsa impressão de dispensabilidade.

Cavern é swingada, bem marcada pelo baixo e pela bateria, com uma pegada urbana noventista. Nesta música fica evidente a influência de Frank Zappa nos vocais de Anastasio, com sua voz grave e tom debochado. Os backing vocals, perfeitamente executados ao longo do álbum, já dão o ar da graça aqui.

A quarta faixa é Poor Heart, composta e cantada por Gordon. Completamente diferente das faixas anteriores, é um bluegrass empolgado e divertido, com direito a banjo e diversos solos, sempre contextualizados dentro da canção. Ótima faixa.

Stash é o ponto mais alto do disco, na minha opinião. Um tema sensacional de guitarra que vai se transformando e, inesperadamente, molda-se em uma salsa que fica na cabeça para sempre. A vocalização do meio da música e o “maybe so and maybe not” acompanham o ouvinte por muito tempo após o fim da música. O instrumental é um show à parte, mas essa é uma observação que acaba se tornando redundante dentro deste álbum.

Manteca tem menos de 30 segundos, e é um cover engraçadinho de um afro-jazz gravado pelo trompetista Dizzy Gillespie em 1947, com a frase “crab in my shoemouth” cantada na melodia da original. Vejo ela como uma pequena introdução a Guleah Papyrus, um jazz-reggae (ou reggae-jazz?) avant-garde que se desdobra em uma viagem instrumental ao melhor estilo “Phish ao vivo”.

Magilla é um jazz instrumental escrito por McConnell. Uma canção deliciosa, que quase pede um pub, um charuto e um copo de uísque. The Landlady, que dá sequência, também é instrumental, mas bebe da fonte do calypso e da salsa e traz uma deliciosa linha de guitarra.

Glide parece um interlúdio de programa da TV Cultura. Uma melodia contry-folk tocada no violão e, de repente, as vozes entram em harmonia, cantando “we’re glad that you’re alive/a glide” (estamos felizes que você esteja vivo / seja um planador). Surreal, mas nem por isso menos bela. A maneira como a música se arrasta graças à bateria, baixo e piano é incrível, e o final acapella é a cereja no topo do bolo. Bela faixa.

E então vem a zappianíssima Tweezer, com sua linha de baixo funkeada – o grande destaque da música -, vocal sempre em harmonia e muitos solos. É muito legal a maneira como a música vai se desconstruindo a partir da metade, ganhando em intensidade até ir desmoronando aos poucos, perdendo velocidade até o colapso completo.

The Mango Song traz novamente um feel latino, com uma melodia tristonha que vai se alegrando do meio da música em diante. É uma ótima música, mas não me cativou tanto quanto outras do álbum.

Chalk Dust Torture é a mais próxima de um rock and roll puro do álbum. Com a voz bem mais grave (provavelmente alterada em estúdio), o timbre de Anastasio lembra Hendrix ou algum outro cantor negro de rock and roll. É uma ótima faixa, animadíssima e muito bem executada.

As duas músicas seguintes são fillers. Faht é uma faixa acústica escrita pelo baterista Fishman. Trata-se de um violão repetindo uma melodia e barulhos de animais ao fundo, com uma súbita invasão de carros e buzinas. Catapult, por sua vez, é apenas uma voz cantando/recitando um poema surreal.

O álbum termina com Tweezer (Reprise), um trecho de Tweezer com um arranjo diferente e grandioso.

A Picture of Nectar é um ótimo álbum para quem quer conhecer o trabalho do Phish e, principalmente, para quem gosta mesmo de música. Qualidade inquestionável, recomendadíssimo.

Tracklist:
  1. "Llama" (Anastasio) – 3:32
  2. "Eliza" (Anastasio) – 1:32
  3. "Cavern" (Anastasio, HermanMarshall) – 4:24
  4. "Poor Heart" (Gordon) – 2:44
  5. "Stash" (Anastasio, Marshall) – 7:11
  6. "Manteca" (FullerGillespiePozo) – 0:29
  7. "Guelah Papyrus" (Anastasio, Marshall) – 5:22
  8. "Magilla" (McConnell) – 2:46
  9. "The Landlady" (Anastasio) – 2:56
  10. "Glide" (Anastasio, Fishman, Gordon, Marshall, McConnell) – 4:13
  11. "Tweezer" (Anastasio, Fishman, Gordon, McConnell) – 8:42
  12. "The Mango Song" (Anastasio) – 6:23
  13. "Chalk Dust Torture" (Anastasio, Marshall) – 4:36
  14. "Faht" (Fishman) – 2:21
  15. "Catapult" (Gordon) – 0:32
  16. "Tweezer Reprise" (Anastasio, Fishman, Gordon, McConnell) – 2:39

2 comentários:

Breno Góes disse...

cara, conheci seu blog procurando pela internet por alguma informação sobre o "penguin cafe orchestra" mas, ao chegar,vando a qualidade do post sobre o Penguin, não pude ficar só naquele post. Já estou navegando a uma hora no seu blog e ouvi várias coisas sensacionais. Seu texto também é excelente, me deixou muito impressionado. Por favor, não desista do blog, estou vendo que esta última postagem sua é antiga e comento aqui como um eventual incentivo. Se está te faltando assunto, recomendo o disco "Cribas" (2003) do Mono Fontana, um pianista de jazz/ prog (pois é) argentino bem bacana.

Um abraço e parabens!

Anônimo disse...

É isso aí, Russo, o Breno tem razão... não existe blog de música mais interessante que este na net!!! Vc é o monstro da informação musical (no bom sentido)
PUTA SAUDADE DE VC mais do que do blog

Beijos mil!!

Ana.