terça-feira, 5 de abril de 2011

Banda: Einstürzende Neubauten; Álbum: Kollaps


Banda: Einstürzende Neubauten
Álbum: Kollaps
Ano: 1981
Gênero: Industrial; Avant-garde; Noise

Fazia um tempo que eu não escutava um disco e pensava, de imediato, que deveria resenhar aqui no Música Estranha e Boa. Felizmente, esses dias eu ouvi pela primeira vez o álbum Kollaps, da banda alemã Einstürzende Neubauten (que significa "Novos Prédios Desmoronando" em alemão e se pronuncia mais ou menos Ains-tir-tzende Nói-bauten).


A banda foi fundada na cidade de Berlim, na parte oriental, em 1980. Após algumas mudanças de formação, a banda lançou seu primeiro álbum, Kollaps, no ano seguinte com Blixa Bargeld (vocal, guitarra, efeitos), N. U. Unruh (percussão, vocal) e F. M. Einheit (percussão, vocal).


A primeira coisa que chama a atenção em Kollaps é a capa. O símbolo (que seria registrado posteriormente pela banda) é baseado em registros de homens das cavernas no México. Ninguém sabe ao certo o que ele significa, mas o simpático humanoide está para o Einstürzende Neubauten como Eddie está para o Iron Maiden, por exemplo.


Mas o mais assombroso de Kollaps está longe de ser o homenzinho ou o nome difícil da banda. Logo na primeira faixa, Tanz Debil, fica evidente o quanto este álbum é pioneiro e vai na contramão dos lançamentos de destaque de sua época. Entre gritos de "Stell dich tot" e "Gier!" (Finja-se de morto e Ganância!, respectivamente), uma ritmo forte e metálico começa e segue pela música inteira, criando uma atmosfera de um futuro dominado por máquinas. O Ministry e o Nine Inch Nails fariam algo semelhante, mas quase uma década depois e de uma maneira muito mais acessível. A música anuncia muito bem a proposta do álbum.


A guitarra e os vocais de Bargeld são totalmente distorcidos. No caso da guitarra, há momentos em que você não consegue distinguir ela dos demais ruídos percussivos das músicas. A voz não entoa uma melodia, mas gritos angustiados e angustiantes. É o humano realmente se confundindo com a máquina, e tudo isso bem diante dos seus ouvidos.


Se Tanz Debil já anunciava o clima robótico assassino, Steh auf Berlin cospe isso na cara do ouvinte. Um barulho saturado de uma furadeira começa e logo as percussões de N. U. Unruh e F. M. Einheit parecem simular uma fábrica de alguma coisa realmente matadora, parecendo uma metralhadora junto com os berros de Bargeld ao fundo. Diversos ruídos de ferramentas aparecem ocasionalmente, e o mais impressionante é que é tudo analógico - são ferramentas mesmo, e a banda reproduzia ao vivo.


O que mais me intriga sobre a música dita industrial é a maneira como sons que simulam máquinas e objetos inanimados - latas, furadeiras, ruídos em geral - conseguem causar tantas emoções no ouvinte. Eu não consigo imaginar uma pessoa que escute este álbum e fique indiferente. É algo mais sinestésico que a experiência de ouvir música.


A sequência Negativ NeinU-Haft Muzak, Draußen ist Feindlich Hören mit Schmerzen traz uma percussão perturbadoramente lenta. É angustiante como o som do Bärenjude (o "urso judeu" de Bastardos Inglórios) batendo seu taco de baseball contra a grade antes de brutalizar o soldado nazista. Junto com ruídos e gritos soa como seria se o inferno fosse hi-tech.


O momento mais surpreendente, dado o choque inicial, certamente é Jet'M. Trata-se de um cover de uma música muito famosa do fim dos anos 60 chamada Je T'aime Moi Non Plus, um dueto do compositor Serge Gainsbourg e sua amante Jane Birkin. A música original é repleta de gemidos e sussurros, mas a versão do Einstürzende Neubaten soa como a trilha sonora de um filme pornô de robôs malvados.


A faixa título tem quase 8 minutos e novamente cria uma atmosfera apocalíptica. A guitarra de Bargeld toca acordes dissonantes precisamente no começo de cada compasso, como se fosse um metrônomo. É previsível e imprevisível ao mesmo tempo, uma vez que os gritos criam uma outra textura.


Sehnsucht
 traz um piano (!) e é a que mais se aproxima de uma "balada", tanto pela melodia quanto pela voz. Ela dá lugar para o filler Vorm Krieg, uma faixa de 20 segundos que parece um rádio mal sintonizado, e então a sequência de encerramento começa com Hirnsage, uma música lenta e linear. Bargeld soa como um instrutor de exercícios no meio do mundo real e robótico de Matrix.


Abstieg und Zerfall
 tem diversos falsos crescendos, criando uma expectativa que nunca chega. A percussão parece uma bomba relógio, mas a explosão só traz o silêncio. E quando você acha que a última faixa vai explodir, Helga traz apenas mais estática com uma voz ao fundo, e este é o fim de Kollaps.


Kollaps
 é um álbum sensacional, mas deve ser ouvido como uma peça completa, e não como uma simples coleção de músicas. É incrível o quanto ele é diferente, até hoje, de tudo o que você já escutou.


Recomendadíssimo.


Tracklist:
  1. Tanz Debil - 3:19
  2. Steh auf Berlin - 3:45
  3. Negativ Nein - 2:24
  4. U-Haft-Muzak - 3:47
  5. Draußen ist Feindlich - 0:47
  6. Schmerzen Hören (Hören mit Schmerzen) - 2:32
  7. Jet'm - 1:24
  8. Kollaps - 8:03
  9. Sehnsucht - 1:21
  10. Vorm Krieg - 0:20
  11. Hirnsäge - 1:55
  12. Abstieg & Zerfall - 4:28
  13. Helga - 0:11

2 comentários:

Ana Helena disse...

Resenha linda e sinestesica. A música é muito inovadora, tenho que ouvir o álbum na íntegra pra assimilar hahaha

beijos, russo!

Bruna L. disse...

Einstürzende Neubauten não poderia ser de outro lugar senão de "Ost Berlin"...