Banda: Penguin Cafe Orchestra
Álbum: Music From The Penguin Café
Álbum: Music From The Penguin Café
Ano: 1976
Gênero: Neoclássico; Folk Instrumental
Esbarrar em um álbum muito bom e praticamente desconhecido, lançado há décadas e esquecido por muitos artistas e músicos, é uma sorte tremenda. Principalmente quando este álbum é muito diferente de tudo o que você escutou. É essa a minha relação com o álbum que irei resenhar.
Em uma madrugada fria e difícil, conversando com uma amiga, ela me mostrou uma música incrivelmente bonita, com um toque cinematográfico irresistível. A guitarra com um leve flanger, levemente dedilhada, junto com um piano elétrico calmíssimo e um arranjo de cordas chamaram a atenção tanto pela beleza quanto pela simplicidade. Nada de virtuosismo, tudo de feeling. E quando tudo parecia estável, os instrumentistas começaram a improvisar e brincar com a música de uma maneira totalmente vanguardista, com pausas inusitadas e notas fora da escala. Foi o suficiente para eu me interessar e deixar cativar pela banda, o Penguin Cafe Orchestra.
Trata-se de um projeto de um violonista clássico e arranjador chamado Simon Jeffes (morto em 1997 de câncer), o principal mentor e compositor do quarteto completado por Helen Leibmann (violoncelo), Steve Nye (piano elétrico) e Gavin Wright (violino). Segundo o próprio Jeffes, o objetivo do projeto é fugir da rigidez da música clássica e das limitações do rock and roll, criando um híbrido vívido e interessante. E ele conseguiu isso logo no debut, Music From The Penguin Cafe, de 1976.
A primeira música já é uma das melhores do disco e, talvez por saber disso, Jeffes a batizou de Penguin Cafe Single. Um tema alegre e com pegada de trilha sonora, com uma melodia muito marcante e arranjo impecável. A quebra que ocorre no meio da música é inexplicável e ao mesmo tempo confortante: é ótimo escutar uma música que consegue nos surpreender, mesmo tendo sido gravada há quase 35 anos.
Zopf é uma peça composta de 7 partes pequenas e é, certamente, a parte mais experimental do disco - tanto que Jeffes não se limitou ao quarteto e convidou outros músicos para participarem. São tantos momentos distintos e peculiares que as partes são faixas separadas nas versões em CD. Passamos da introdução cartunesca de From The Colonies para a inusitadíssima In A Sydney Motel, com seu toque de canto religioso oriental (um dos pouquíssimos momentos cantados do álbum). Isso sem contar a profunda Surface Tension (paradoxo não-intencional), a maluquíssima Milk, o toque de cantata de Coronation, a felicíssima Giles Farnaby's Dream e a sci-fi Pigtail.
E finalmente chega a música que me levou ao Penguin Cafe Orchestra. Quando tudo indica que o álbum vai caminhar para o avantgarde total, começa The Sound Of Someone You Love Who's Going Away And It Doesn't Matter. Tanto o título quanto a música são longos, mas os quase 12 minutos (!) são tão belos que passam rapidamente. São variações dos demais intrumentos sobre o tema que Jeffes dedilha em sua guitarra, criando nuances e crescendos belíssimos. Difícil não se emocionar e não se impressionar com a quebra já citada anteriormente nesta resenha.
Hugebaby é mais uma faixa memorável, com seu clima sombrio e, ainda assim, belíssimo. Aliás, a execução dos instrumentos é algo muito peculiar pelo álbum inteiro. Não temos um disco impecável aqui. Existem alguns errinhos muito perceptíveis em alguns momentos, mas isso não tira o brilho do trabalho. Pelo contrário - adicionam uma crueza e uma legitimidade que dão vida e autenticidade às músicas.
A discreta Chartered Flight fecha este belíssimo debut de uma banda muito peculiar, que infelizmente é praticamente desconhecida aqui no Brasil.
Recomendadíssimo.
Tracklist:
1. Penguin Cafe Single
2. Zopf
a. From The Colonies
b. In A Sydney Motel
c. Surface Tension
d. Milk
e. Coronation
f. Giles Farnaby's Dream
g. Pigtail
3. The Sound Of Someone You Love Who's Going Away And It Doesn't Matter
4. Hugebaby
5. Chartered Flight
5. Chartered Flight
2 comentários:
Pois é, Russo, o disco é exatamente como vc o descreveu, todo calcado na simplicidade e nas pequenas coisas que mudam muito. Várias esquinas que desembocam em ruas diferentes. Me impressionei tanto quanto você! E é por isso que considero (principalmente a dita cuja da "The sound of someone...") como um presente.
Obrigada pela resenha linda, saudades!
Eu amei a dica! :)
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