Artista: Laura Nyro
Álbum: Eli And The Thirteenth Confession
Álbum: Eli And The Thirteenth Confession
Ano: 1968
Gênero: R&B; Pop; Gospel; Soul
Acho que poucas pessoas discordam que os anos 60 representaram um salto cultural inacreditável no mundo ocidental. Muita coisa mudou em vários aspectos, e na música não poderia ser diferente.
Eu sei que o parágrafo acima é um clichê deveras desgastado, mas foi a melhor maneira que encontrei para começar a escrever sobre este álbum da cantora americana Laura Nyro lançado em 1968.
Pra começar, eu nunca tinha ouvido falar dessa cantora até poucos dias atrás, quando estava pesquisando por material "novo" dos anos 60. E quando vi a capa do álbum Eli and the Thirteenth Confession, achei que tinha trombado sem querer em um álbum do Nightwish ou de alguma banda parecida.
Laura Nyro nasceu no Bronx, em Nova Iorque, em 1947, filha de um afinador de piano e de uma bibliotecária. Aprendeu a tocar piano e a cantar sozinha quando criança e sempre se interessou por literatura e poesia e começou a compor aos oito anos de idade. O curso natural das coisas a levou a seguir a carreira musical, e ela cita a grande Nina Simone como uma de suas principais influências (um dia faço uma resenha de um disco da Nina aqui).
Laura Nyro nasceu no Bronx, em Nova Iorque, em 1947, filha de um afinador de piano e de uma bibliotecária. Aprendeu a tocar piano e a cantar sozinha quando criança e sempre se interessou por literatura e poesia e começou a compor aos oito anos de idade. O curso natural das coisas a levou a seguir a carreira musical, e ela cita a grande Nina Simone como uma de suas principais influências (um dia faço uma resenha de um disco da Nina aqui).
Por sempre ter tido contato com a cultura negra da época (que, vale lembrar, era de muita segregação nos EUA) Laura Nyro desenvolveu um estilo muito peculiar de compor, agregando elementos musicais do jazz, gospel e R&B ao rock e ao doo wop, resultando em uma combinação muito interessante. É tão forte essa influência que, sem ver a capa do disco, é muito fácil deduzir equivocadamente que Laura era negra pelo estilo da música que cantava em sua época.
O debut de Laura Nyro foi o bem recebido More Than a New Discovery, de 1967, mas o álbum aqui resenhado é o segundo, Eli and the Thirteenth Confession, lançado no começo de 1968 quando a cantora tinha 20 (!) anos. Todas as músicas foram compostas por ela, assim como em seu debut - a moça era muito talentosa.
No meu caso, bastou escutar a primeira faixa do disco - Luckie - para ser conquistado. A introdução grandiosa, cheia de metais com a voz potente da moça e a súbita pausa para a volta em clima de jazz, que depois vira rock e até funk. As mudanças constantes de andamento são encantadoras, e é uma das marcas mais fortes da compositora.
Lu é uma das minhas favoritas. A melodia deliciosa cantada por Laura, que logo é acompanhada por backing vocals assaz competentes, fica na cabeça. É gritante a influência da música negra americana nessa música. Sensacional!
Sweet Blindness começa com um quê de Beach Boys para, novamente, nos surpreender com as mudanças abruptas de andamento. Aproveito para fazer um adendo: quando falo nas mudanças de andamento nas músicas de Laura Nyro estou me referindo a algo muito mais suave e acessível que as mudanças de andamento em uma música do Fantômas, por exemplo. As músicas desse disco, apesar das melodias elaboradas e tempos complexos, são extremamente calcadas no pop, e isso o torna muito especial.
Poverty Train, por exemplo, tem uma levada totalmente blues logo de cara, mas é um belíssimo soul em sua maioria. A voz de Laura está muito mais para o grave nessa música, e a interpretação é impecável. "I just saw the devil and he's smiling at me".
Lonely Women poderia facilmente ter saído de um disco da Nina Simone. Começa totalmente intimista, freeform, e do nada fica com uma cara meio Clube da Esquina. É estranha assim e bela assim. Nem preciso dizer que a interpretação de Nyro é um show à parte.
Eli's Comin' é o que mais se aproxima de uma faixa título. Gosto muito da descrição que o reviewer da Allmusic.com fez: "essa música dá mais guinadas e voltas que uma cobra no chão quente do deserto". E é exatamente isso. Ela passa de um começo profundo e lento a um ritmo frenético, com muita influência de gospel, para depois voltar ao clima sombrio, muito bem texturizado pelos instrumentos e vozes. Uma belíssima composição.
Timer começa operesca, com Laura demonstrado uma versatilidade vocal impressionante, mas tirando isso é uma das menos interessantes do álbum. O mesmo não podemos dizer de Stoned Soul Picnic, com seu clima totalmente sessentista. Poderia facilmente ser regravada por alguma banda vocal como The Mamas and The Papas ou 5th Dimension - os últimos, inclusive, a regravaram. Lisérgica e onírica.
Emmie é uma balada fluida e belíssima, deliciosa de se escutar e com um final emocionante. As orquestrações, a voz... tudo, mais uma vez, está no lugar.
Woman's Blues é uma das mais ambiciosas do álbum. Começa com uma pegada erudita mas evolui para um soul extremamente swingado, com direito até a clavinete no final. A letra é incrivelmente pessoal e dramática. "Go live as long as an elephant, but there won't be more lovin' woman than me".
Once It Was Alright (Farmer Joe) é animada, dançante, bebendo da fonte do gospel e do soul mais uma vez, com transições menos suaves que das músicas anteriores. Talvez por isso seja um pouco menos acessível, mas novamente é um prazer escutar Laura cantando.
December's Boudoir é lentíssima, totalmente livre, guiada totalmente por piano e voz com texturas de harpa e orquestra. É a música mais lenta do álbum, e certamente a mais intimista.
A 13ª e última música do álbum, como o nome sugere, é The Confession. De todas as músicas talvez seja a que mais bebe da fonte do rock, mas não qualquer rock e sim da nata do rock sessentista - aquele rock orquestrado e elaborado que começou a aparecer na metade da década. E o final é realmente um gran finale, intenso como a abertura de Luckie, a primeira faixa.
Uma curiosidade interessantíssima: a versão em vinil do álbum trazia o encarte interno com letras - o que já era raro - e, como se não bastasse, ele era perfumado. Quem tem a versão original diz que o perfume dura até hoje, mais de 42 anos depois do lançamento e 13 da morte de Laura Nyro de câncer de ovário, aos 49 anos de idade.
Recomendadíssimo.
Tracklist:
- "Luckie" – 3:00
- "Lu" – 2:44
- "Sweet Blindness" – 2:37
- "Poverty Train" – 4:16
- "Lonely Women" – 3:32
- "Eli's Comin'" – 3:58
- "Timer" – 3:22
- "Stoned Soul Picnic" – 3:47
- "Emmie" – 4:20
- "Woman's Blues" – 3:46
- "Once It Was Alright Now (Farmer Joe)" – 2:58
- "December's Boudoir" – 5:05
- "The Confession" – 2:50
2 comentários:
Diva!!!! Belo post, parabéns.
Cara... Meus parabéns... Nunca fiquei com tanta sede de escutar um disco lendo uma resenha crítica...
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