quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Banda: Masada; Álbum: Masada Guitars


Banda: Masada
Álbum: Masada Guitars
Ano: 2003
Gênero: Klezmer; instrumental

Quem acompanha este blog faz tempo ou já teve a curiosidade de dar uma olhada nos posts antigos vai se lembrar do nome Masada

Como pode ser observado no post que fiz sobre o debut da banda, o ótimo Alef, trata-se de um projeto do compositor, produtor e saxofonista John Zorn que mescla música judaica com jazz, música experimental e muitos outros gêneros. Entretanto, é mais uma coleção de músicas que uma banda em si. Vou tomar a liberdade de colar aqui o parágrafo explicativo que fiz no post de 2006, que falava exatamente isso:

O Masada lançou dez álbuns de estúdio com a formação clássica entre 1994 e 1997: Alef, Beit, Gimel, Dalet, Hei, Vav, Zayin, Het, Tet e Yod. Essa formação conta com John Zorn no saxofone, Dave Douglas no trompete, Greg Cohen no baixo e Joey Baron na bateria. Entretanto, em seus anos de atividade (desde 1993, ou seja, treze dezoito anos), diversos lançamentos fizeram do Masada uma banda muito mais interessante do que ela aparenta ser ao ouvir os dez álbuns com os quatro músicos: inúmeras formações diferentes tocando arranjos diferentes das músicas desses álbuns (e algumas que não entraram, visto que Zorn compôs mais de 200 músicas nesse período de 3 anos). A formação Bar Kokhba, por exemplo, conta com Mark Feldman no violino, Erik Friedlander no violoncelo, Greg Cohen e Mark Dresser no baixo, Marc Ribot na guitarra, Anthony Coleman e John Medeski no piano/órgão, David Krakauer e Chris Speed no clarinete, Kenny Wolleson na bateria e Dave Douglas no trompete. Esses músicos revezam em diversas formações e apresentam releituras belíssimas das músicas de Zorn, além de algumas que são executadas exclusivamente por esta formação. Outro álbum - Masada Guitars, por exemplo - conta com três guitarristas rearranjando as músicas da formação original, e apenas isso. São 21 faixas, todas contando com um guitarrista e sua guitarra, nada mais. Belíssimo álbum, mas vamos voltar e falar do primeiro dos primeiros: Alef.

Pois é, eu já citei o Masada Guitars há quase cinco anos e chegou a hora deste disco ter seu próprio post.

Em 2003, no décimo aniversário do primeiro álbum do Masada, John Zorn convidou três de seus guitarristas favoritos para interpretar 21 músicas do projeto de maneira minimalista, ou seja, são apresentações solo e, em sua enorme maioria, em violões ou em guitarras sem distorção.

Os três guitarristas escolhidos se destacam justamente por apresentarem estilos claramente distintos.

Bill Frisell tem raízes muito fortes no jazz, sendo considerado um dos grandes nomes dentro do estilo desde os anos 80. Isso, entretanto, não impede que o músico também seja reconhecido por utilizar diversos efeitos e recursos para tirar sons únicos da guitarra - mais ou menos como faz Tom Morello, mas mais focado para o avant-garde.

Tim Sparks se destaca pelas técnicas de dedilhado. Por ter estudado diversos gêneros musicais durante sua vida, ele consegue incorporar diferentes técnicas e feelings em suas interpretações das músicas de Zorn. Ele já trabalhou com diversos estilos de world music, incluindo fado e bossa nova.

Marc Ribot é um guitarrista experiente, que já trabalhou com diversos artistas do rock e do pop - Tom Waits, Elton John, Elvis Costello e Robert Plant são alguns deles. Entretanto, a zona de conforto de Ribot é o experimental, incorporando técnicas e estilos não convencionais ao jazz e ao rock.

O que me fascina no álbum é a como a música de Zorn, quando focada mais para o melódico, é bela e envolvente. Não se trata de um disco de guitarra no mesmo sentido que Yngwie Malmsteen ou Michael Angelo Batio fariam, mas de um álbum pleno, onde guitarristas interpretam melodias muito bem definidas ao seu estilo, sem se prolongar demais e sem tentar superar a velocidade do som. Basta pegar como exemplo as três faixas que abrem o álbum e introduzem os três guitarristas.

Abidan, com Bill Frisell, começa com um suave harmônico no violão e segue tranquilamente, em tempo livre, minimalista - é possível escutar a respiração do músico ao fundo. Já Kodashin, com Tim Sparks, segue num allegro, e a técnica do guitarrista fica evidente para quem nunca tinha ouvido falar dele. Ele a toca com uma naturalidade que parece que a canção foi feita para seu violão (apesar de estar no oitavo álbum da formação jazz do Masada, Het). Kedem, com Marc Ribot, tem um tom melancólico, favorecendo o feeling à precisão da execução.

O perfil do álbum é basicamente esse, apesar de cada composição ser única. Porém, existem duas outras faixas que eu gostaria de destacar.

Katzatz, com Frisell, é uma releitura genial da versão para a banda de jazz. Parece uma música de desenho animado, como se o Pica-Pau fosse 10x mais maluco e tomasse ecstasy. Assim:




E Frisell, com distorções, técnica e criatividade, reproduziu dessa maneira (clique no link para escutar a música).

Kanah talvez seja a minha favorita do álbum. A transcrição para violão ficou impecável, e a interpretação de Tim Sparks é assombrosa. Acho interessante ele utilizar uma guitarra de aço em um arranjo que parece ter sido feito para violão clássico.


Enfim; é um álbum essencial para quem admira guitarra e violão clássico, música instrumental e jazz.


Recomendadíssimo.

Tracklist (intérprete entre parênteses):

1. Abidan (Frisell)
2. Kodashin (Sparks)
3. Kedem (Ribot)
4. Bikkurim (Frisell)
5. Ravayah (Sparks)
6. Hadasha (Ribot)
7. Katzatz (Frisell)
8. Kanah (Sparks)
9. Hodaah (Ribot)
10. Kisofim (Frisell)
11. Sippur (Sparks)
12. Sansanah (Ribot)
13. Galgalim (Ribot)
14. Elilah (Frisell)
15. Kedushah (Sparks)
16. Shevet (Ribot)
17. Kochot (Frisell)

18. Tzalim (Ribot)
19. Kivah (Ribot)
20. Avelut (Frisell)
21. Moshav (Ribot)